Imersão espiritual imersa num conceito de existência e finitude do universo, vida e morte, da luz e da escuridão. O luto visto sob uma ótica bastante peculiar. Cinema distinto e de difícil compreensão mas que compensa muito.
O ritmo lento nem sempre engrena, com uma mensagem que leva tempo para se desenvolver e apresentar novas camadas sobre nossas formas de interação com o meio e com os outros. Com paciência, a direção se revela com apuro e um par de cenas de grande beleza.
Outra evidência d'o quanto a singular encenação de Kurosawa (sua forma pungente de orquestrar os corpos em cena e os simbolismos em jogo, notoriamente no uso da luz) eleva um material ordinário a uma das mais belas experiências do cinema contemporâneo.
Encara o sobrenatural de braços abertos e reserva alguns momentos de notável beleza, como a sequência do "perdão" no piano. Um parente próximo dos filmes de Weerasethakul.
Partindo de um ponto que só poderia vir do Japão e seus espíritos tão amplos, coloca seres de dois mundos lado a lado, sem surpresas. Não há sustos, não há incompreensão. Existem.
Pena que apenas o espiritual oriental é filmado com tanta sensibilidade.
Kurosawa numa imersão espiritual que resulta num filme lindo, tanto imageticamente quanto em sua essência. Já é o maior expoente oriental de sua geração.