Dá algumas derrapadas de roteiro, mesmo dentro de uma lógica de abordagem fantástica (que não funciona como carta branca), mas tem um punhado de cenas lindas e uma metáfora social desenvolvida de modo competente. Só não precisava de uma trilha tão brega.
A metáfora poderosa e acessível reverbera do começo ao fim como um triste emblema de nossos tempos. É preciso amplificar as doces melodias e silenciar os grunhidos cruéis.
Foi o filme mais comentado desta edição de Cannes e conseguiu levar prêmios tão diferentes como o de melhor filme da mostra Un Certain Regard e a divertida Palm Dog, para o melhor cão atuando num filme do festival.
A execução pode ser simples e pouco sutil, mas Fehér Isten se firma de forma incrível como fábula moderna (de mensagem atemporal, diga-se). O que a selvajaria dos cães representa aqui é tão universal quanto triste e terrível. E palmas para a cena final!
A primeira metade é Sessão da Tarde gourmet, mas o filme ganha força ao mostrar a que veio, numa grande metáfora social hiperbólica e inusitada onde os cachorros são qualquer mazela humana que sofre algum tipo de discriminação, marginalização e opressão.