A vida de Pasolini é impressionante. Ter a chance de contá-la, pode intimidar muitos, não para Ferrara. Consegue passar a visão de poeta do italiano, seu discurso sobre a sociedade consumista é fantástico. A maneira que lida com a sexualidade, como provocar é um direito e como se ofender é uma condição sua. Como correlaciona o filme que queria fazer com sua vida. Na cidade dos artistas, intelectuais, do amor livre, a violência e a crueldade se apropriaram de seu corpo. Mas sua alma perdura.
Um belo drama sobre o último dia na vida de um homem dividido entre a empatia e o desencanto com a humanidade. Algumas passagens, sobretudo as metalinguísticas, são das mais marcantes do ano. Só podia pesar um pouco menos no hermetismo.
Pasolini morreu, assim insiste a história, como se estivesse em uma cena de um de seus filmes. "É só no momento da morte", Pasolini disse em 1967, "que nossa vida, ambígua, suspensa e indecifrável até ali, adquire significado".