A negligência do estado, o abandono familiar, o fanatismo religioso. Quando os pilares da sociedade falham covardemente. Nada é mais perigoso do que fanáticos bem-intencionados.
Mungiu cria com vários planos-sequências, atuações firmes e atmosfera crua e realista uma reflexão sobre hipocrisia religiosa levada as últimas consequências e como sua visão arcaica é totalmente fora da realidade e bom senso.
Mungiu opta deliberadamente por ficar em cima do muro e não criticar severamente o conservadorismo e o pensamento retrógrado da igreja bem como prefere não demonizar os atos daqueles religiosos. Me parece que faltou um pouco de coragem à Mungiu em propor aquilo que de fato ele tinha em mente, ainda que Além das Montanhas consiga levantar uma brecha para uma discussão super relevante. Bom filme mas falta ousadia.
Mungiu mostra em meio a uma técnica primorosa até que ponto o fanatismo religioso pode deturpar a visão crítica do real e eleva a situação ao máximo, sem maquiagem, para revelar quais as suas consequências. Aquele que retorna nunca é igual àquele que foi.
Com a preocupação maior de criticar a sociedade do local, seus costumes, valores e tradições "rudimentares", o filme não desenvolve os personagens e as relações entre eles convincentemente, se alongando em cenas inúteis e cortando outras importantes.
Homossexualismo (uma delas sendo freira) num convento cristão ortodoxo na Romênia rural ! É sabido que tudo vai ser barreira e qualquer fração de pensamento será arcaico e conservador.
Com o posicionamento das duas,nada muito diferente poderia acontecer.
O roteiro de Mungiu, sempre cheio de detalhes, sobressai ao resto, mas peca sobretudo no desenvolvimento de personagens e no julgamento apressado na parte final. As protagonistas não mereceram o prêmio em Cannes e mais parecem dois postes atuando.
Em uma Romênia sob cerração constante, uma discussão de patamar elevado sobre crença incondicional, política e livre arbítrio. Mungiu volta a desafiar seu público em sequências desconcertantes.