Em uma Itália ainda com os efeitos da segunda guerra, a desonestidade como modo de vida na esperteza e na exploração da pobreza, onde pairam os ambíguos sentimentos sobre o que podemos abdicar e como continuar a vida nesse contexto.
Fellini é tão habilidoso que nos convence a sentir compaixão por verdadeiros canalhas, que embora sejam farsantes, possuem camadas dramáticas acentuadas (como Augusto e Picasso), o que nos faz, de certa forma, acompanhar essa angustia e solidão que os protagonistas sentem, mesmo embolsando cada vez mais. O final é devastador (como tradicional num filme do diretor), realizado com uma ironia deliciosamente melancólica.
Há um certo charme neste mundo de vigarice criado por Fellini apesar de todo asco que gere no espectador. Num todo a obra parece um pouco redundante em seu desenvolvimento mas cresce absurdamente em seu desfecho.
Il Bidone acabou ficando esquecido no meio dos grandes filmes que Fellini fez na década de 50. Pena, é um belo filme, amargo, com um tema por vezes difícil de se lidar, mas encantador na forma como desperta compaixão por alguns personagens.