Com muita simplicidade e sensibilidade, Agnes Varda põe o dedo na ferida mostrando um lado da sociedade francesa muito além do que o olhar comum pode enxergar
Varda sabia expor dramas reais sem escorregar no sentimentalismo pobre e óbvio. As histórias que recolheu (trocadilho irresistível) são preciosas e mostram que ainda há que se aprender muito como lidar com os recursos que a natureza dá, bem como aqueles produzidos pela mão humana. A cena em que ela brinca de "pegar" os caminhões é uma gostosa lembrança de seu jeito sapeca.
Tem seu valor, com boas imagens, mostrando as sobras de colheitas endereçadas diretamente ao mercado - que devia ser doadas no ato mas absurdamente são largadas na terra.
Parece que lá há mais travas e detalhes de lei do que imaginei que era possível.
Impressiona como a maturidade do olhar simples transgride o senso comum. Vemos muito além da imagem e de poucas palavras sinceras. Um registro de natureza, sociedade, política, história, tempo, arte, vida.
Sinceramente me impressionou mais o As Praias de Agnes do que este filme que é sem dúvida mais famoso e que de fato se assiste com uma imensa dor no coração mesmo sem qualquer apelo melodramático. Mas em certo ponto parece haver uma certa redundância.
A ideia de apresentar os "respigadores", aproveitando para falar do desperdício de alimento no mundo era boa, mas a diretora, além de não desenvolver o tema, derivou para outros assuntos e acabou se perdendo, o que deixou o documentário sem conteúdo.