Ao apresentar três versões para a história do egocêntrico Boca de Ouro, com sutis variações entre elas, Rodrigues brinca com a percepção acerca do homem e não entrega respostas definitivas. De quebra, oferece mais uma de suas crônicas de costumes cariocas muito bem transposta para a tela sob o comando de Pereira dos Santos, tendo em Valadão a quintessência do malandro de vida curta.
Boca de Ouro é uma figura mística, dotado de uma malandragem, de jeito sacana e cafajeste, ele consegue dar ao filme uma certa ginga tipicamente brasileira. Se trata de um sujeito pujante que está sempre excedendo poder, capturando um frescor das relações amorosas e um domínio sobre outros homens. Tudo isso centrado no corpo, criando uma obra dos sentidos onde o vulto está entre o beijo e o tiro. E pra completar, que puta mise-en-scènce; decupagem, iluminação e profundidade de campo perfeitos!
Me agrada por demais esta mistureba de filme de gânsgster, cinema marginal, cinema novo com Rashomon e Cidadão Kane. Jece Valadão dá alma a um dos melhores personagens que o cinema brasileiro já criou e Nelson Pereira encontra um foco narrativo distinto de suas obras anteriores que flertavam demais com o neorealismo italiano.
NPS acerta a mão na adaptação + cara de N.Rodrigues q eu já vi. Os termos, os tipos, o RJ, dialogado s/ser chato, mto fiel. Um conto style c/o lance das 3 versões e q traz um trio no elenco q arrebenta, c/J.Valadão fazendo um Boca de Ouro inesquecível.
Um filme que é ao mesmo tempo Cinema Novo, filme de gângster e "Rashomon" (Kurosawa). Impressiona como Nelson Pereira dos Santos conseguiu dar dinamismo e agilidade ao texto de Nelson Rodrigues. Sem dúvida, a melhor adaptação de uma obra do escritor.