Filme sobre o absurdo da Itália durante a era Berlusconi. Uma figura que só poderia ser encenada pelas lentes do sarcasmo, da ironia. O que não esconde sua barbárie, o fruto de uma ideologia que beira o fascismo, que transformou a política em espetáculo nonsense, garantido o controle da massa idiotizada e a manutenção do Status Quo dos privilegiados de sempre. O pior é que fez escola, basta olhar para os EUA, Brasil. Em um mundo assim a produção artística é essencial para a própria existência.
Produtor despolitizado de filmes B quando se vê impossibilitado de realizar suas fantasias descompromissadas mergulha de cabeça num filme politico de uma jovem diretora ativista como se essa fosse sua ultima escapatória para fazer seu cinema, sua ficção.
Poderosa e irônica crítica, num momento não muito propício para seus alvos (por isso é ainda mais foda). Moretti vai lá e ''metalinguagicamente'' adentra ao mundo dos seus ''homenageados''. Uma pena um diretor talentoso como esse ser tão sub-valorizado.
Moretti ataca o calcanhar de Aquiles dos italianos com sua crítica metalinguística de passagens muito inspiradas e um senso de humor discreto que também abre espaço à discussão sobre a falência de um matrimônio.
Nanni Moretti fez um filme imperdível. Além de apresentar uma forte crítica política e um tom metalinguístico, "O crocodilo"é hilário. O protagonista é simplesmente cômico, uma interpretação inspiradíssima de Silvio Orlando.