Mouchette me parece a repetição do filme anterior do diretor, A grande testemunha, a diferença é que a protagonista muda de um burra para uma menina que é constamente achincalhada por tudo que lhe rodeia. Os curtos 78 minutos me pareciam uma odisseia, talvez pelo formato seco do diretor ou simplesmente pela minha total falta de conexão com a personagem e talvez uma "birra" pessoal que tenho com filmes que retratam sucessivas trágedias.
É a miséria, seja ela física, social, humana. O peso de tudo e de todos. As mazelas da condição humana. Existência vazia, amargurada, universo de dor e crueldade. Sempre impressiona o rigor milimétrico da mise en scène de Robert Bresson.
Mouchette respira apenas para servir aqueles que a rodeiam, constantemente humilhada e castigada por seus pensamentos e atitudes, sem nunca ser ouvida, quiça compreendida. Uma existência vazia em um dos filmes mais lúdicos de Bresson. Em vida, a redenção destas pessoas nunca será possível.
O Bresson mais expressivo fácil. De quando em quando os atores soltam o rosto de pedra e dão olhares e impressões mais intensos.
A história é forte, desenganada e marcante.
Podia terminar mais aberta, não tão negra.
14/12/10 - "Mouchette" é o filme mais pessimista de Bresson e traz uma comovente reflexão sobre a doutrina da graça divina, em que a garota sofre pela ausência dessa graça e pelo excesso de crueldade humana.
A morte forçada da infância e da feminilidade, justamente quando dois dos expoentes da beleza humana estão em época de florescer. Bresson transforma resultados em princípios, resultando num dos seus melhores filmes. FILMAÇO.