Um dos recursos mais usados por Kiarostami, as conversas em carro dominam a cena deste drama com profundas reverberações sobre a realidade da mulher iraniana. É incrível também a capacidade que o diretor tinha de colocar crianças em papéis fortes. O menino deve ter decorado umas cinquenta páginas de roteiro e interpreta com naturalidade absurda.
Os atores não são profissionais. Mania Akbari (a motorista), contracena com seu próprio filho, o garoto Amin, e o relacionamento deles é parcialmente baseado na vida real.
Com uma condução límpida, sem floreios, quase ausente, Kiarostami consegue, como todo bom contador de histórias, narrar de maneira espantosamente fluente e cativante, sem parecer esnobe ou hermético. E consegue aproximar o espectador da realidade mostrada na tela, por mais distante que pareça a cultura islâmica. Assim, no final, fica transparente que a libertação das mulheres do país é um feliz percurso sem volta.
Em um filme seco e impactante, Kiarostami manifesta todo o machismo milenar e abusivo da sociedade iraniana. Todo o peso social que as mulheres carregam é exposto em diálogos que caminham entre a agressividade e a tristeza, o inconformismo e a aceitação, o medo e o sonho. E que momento singelo quando uma das passageiras retira seu véu e revela sua cabeça raspada. É um pequeno/grande/absoluto gesto de resistência.
Kiarostami é com certeza,o maior artista do século 21. Toda trama que nos traz é natural,realista,sem arroubos dramaticas e excelentes de assistir.
Será que os iranianos são tão antiquados como pensamos ?