Vou guardar em minha memória a bela cinematografia de Kurosawa em uma de suas temática recorrentes, o enfrentamento diante à pobreza extrema. Kurosawa lança um olhar bastante humano e por vezes poético e duro da situação humana, apesar de um certo excesso de duração que acabou me gerando algum desinteresse. Mifune excelente como de praxe.
Um pouco longo, é verdade, mas a saga da evolução de um jovem médico arrogante tendo que encarar a dura realidade é interessante de se acompanhar, a parte final mostrando a tristeza causada pela pobreza extrema é um achado sutil de Kurosawa. A simples e belíssima fotografia em preto-e-branco encanta.
O jeito oriental de fazer drama não resvala para o exageradamente sentimental e, assim como o jovem médico, o espectador vai aos poucos se afeiçoando aos funcionários e pacientes daquele lugar e constatando a sabedoria imensa do médico veterano de barba avermelhada.
Kurosawa era um humanista de mão cheia. Seus filmes sempre lançaram um olhar singelo sobre a natureza humana, mas sem esconder suas mazelas, violência e opressão. "O Barba Ruiva" é mais um belo exemplo desse Cinema quem vem da alma, do coração. Grande!
As mulheres de Kurosawa são sempre mais interessantes que os homens. Mas mesmo com o soberbo Mifune no elenco, nunca a 'barriga' de Kurô atrapalhou tanto a história, estendendo a narrativa aos pampas do desequilíbrio e do excesso indefensáveis.
Razão vs emoção num encontro entre o médico técnico e o humano, uma lição de vida de 3h com causos de muita força. Mifune monstro sagrado, pra variar, no papel de grandes homens. Kurosawa já mostra sinais de ocidentalização aqui na sua trilha sonora.