"A Apoteose Artística de um Gênio da Animação"
Hayao Miyazaki pode ser considerado um dos artistas/cineastas mais icônicos e talentosos de sua geração, e sua obra tão peculiar, provavelmente jamais será repetida ou superada. Depois de nos entregar os antológicos: "Meu Amigo Totoro (1988)", "O Serviço de Entregas de Kiki (1989) e "Princesa Mononoke (1997)", nos surpreende e lança o seu trabalho mais importante, famoso e memorável, o genial "A Viagem de Chihiro".
Vencedor do Urso de Ouro e do Oscar de Melhor Filme em Animação, "A Viagem de Chihiro" se apresenta como uma fantástica viagem para um outro mundo, sendo este metafórico, belo, sombrio e de uma riqueza cultural sem precedentes. Diferente da maioria das animações norte-americanas, Miyazaki não entrega de bandeja toda a filosofia presente em sua obra. Muitos de seus ensinamentos demoram para ser compreendidos, sendo necessário algumas revisitadas e atenção por parte do espectador.
São muitas as metáforas presentes nesta obra também. Por exemplo, a casa de banhos de Yu-Baba pode ser entendida como a representação do mundo, sendo este regido pelo capital. Percebam que logo ao chegar, Chihiro é obrigada a trabalhar para sua sobrevivência e a de seus pais, mesmo nas piores condições possíveis. Para ser aceita no local, perde o seu nome (numa clara referência ao fato de que as crianças perdem sua identidade e autenticidade ao chegarem a fase adulta e ao mundo do trabalho). Temos também o misterioso personagem "Sem-Rosto", que é gentil e bondoso antes de adentrar à casa de banhos, mas que torna-se com o tempo, agressivo e irracional após o consumismo exacerbado, conquistado pelo ouro que produz, mesmo que o mais importante para ele, o carinho e atenção de Chihiro, sua nova amiga, o mesmo não conquiste com bens materiais.
Metáforas à parte, a animação apresenta um visual estonteante, com cores vibrantes e traços minimalistas e detalhes que beiram a perfeição. O universo criado por Miyazaki e a equipe da Ghibli é riquíssimo, onde novos detalhes vão sendo descobertos, a cada revisitada. Os personagens fogem dos estereótipos a qual estamos acostumados, se apresentando como seres tridimensionais, complexos e realistas. Chihiro, por exemplo, que se mostra como uma criança mimada e birrenta no inicio da projeção, evolui para uma pessoa responsável e esforçada, sem que essa mudança se torne rápida ou forçada, mas através de etapas pela qual a protagonista deve enfrentar, o que torna a transformação convincente.
Não são poucas as qualidades apresentadas nesta animação, que ainda incluem uma bela trilha sonora (destaque para a canção-tema, que sintetiza toda a filosofia da obra) e um roteiro inteligente e de uma inventividade exemplar. Apesar da qualidade inquestionável, "A Viagem de Chihiro", ainda é uma animação para poucos. Afinal é sabido que o preconceito com animações orientais ainda é grande, e muitos não estão preparados para um "desenho" que não subestima seus filhos. Recomendo para todo cinéfilo que deseja ser transportado a um novo mundo, onde a imaginação não tem limites e a criança interior de cada um de nós é livre para sonhar.
"Em algum lugar, uma voz chama
do fundo do meu coração
que eu possa sempre sonhar,
os sonhos que movem meu coração"
Estrofe da canção "Itsudemo Nandemo" de Yumi Kimura
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