Alex - Viemos te resgatar.
Carter - Você tem quantos homens?
Alex - Tenho duas amigas no bar.
Carter - Mas eles tem 50 homens armados.
Alex - Eu sei, não parece justo.
É com este diálogo que McG (O Exterminador do Futuro: A Salvação) inicia a projeção, já fornecendo as coordenadas para o público do tom pretendido. A cena de ação de abertura já aponta também o caminho que o filme irá seguir, com uma divertida e exagerada sequência, que de tão inverosímel chega a ser desconcertante, cabendo ao público decidir se irá embarcar ou não em sua proposta.
McG é um diretor de mão pesada (vindo do mercado de videoclipes) e seu estilo já é sentido desde a apresentação do trio em uma série de gags visuais em ritmo alucinante, com uma trilha sonora eclética e bastante agradável que dão o tom ideal para este momento. Fica nítido que para o diretor tudo não passa de uma grande brincadeira, sem compromisso algum com a realidade, o que pode tornar-se uma tragédia para muitos ou ao menos um divertido filme de ação e comédia, dependendo de como você irá encará-lo.
São muitas as referências e influências encontradas na projeção, entre elas: Os Caçadores da Arca Perdida (The Raiders of the Lost Ark, 1981), Matrix (Matrix, 1999), Missão Impossível 2 (Mission Impossible 2, 2000), Flashdance: Ritmo Louco (Flashdance, 1983), Homem-Aranha (Spider-Man, 2002), A Noviça Rebelde (The Sound of the Music, 1965), Cabo do Medo (Cape Fear, 1991), entre muitas outras. Vale destacar também a excelente faixa musical do longa, com uma variedade notável de canções, que vão desde Livin On A Prayer de Jon Bon Jovi à Rebel Rebel de David Bowie.
O elenco também é bastante extenso. O trio principal composto por Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, continua com a mesma química do filme anterior e comandam o filme com a beleza e o carisma esperados. A vilã da vez é Madison Lee, Ex-Pantera que busca vingança por ter sido abandonada à beira da morte em uma missão que realizou para Charlie no passado, representada por uma inspirada Demi Moore (em ótima forma). São muitas as participações especiais, com nomes como o de Bruce Willis, John Cleese, Robert Forster, Rodrigo Santoro, Carrie Fischer, Robert Patrick, Luke Wilson, Crispin Glover, Justin Theroux, Shia LaBeouf, Bernie Mac (como o novo Bosley), entre outros.
O roteiro é o ponto mais fraco da produção, sendo repleto de furos, absurdos, incoerências e lugares-comuns (muitos, propositais), com uma estória que faz pouco sentido e um humor (algumas vezes) duvidoso. O mais interessante aqui é a inteligente alusão que ele faz com a eterna luta entre o bem e o mal, com Charlie sendo Deus, as Panteras seus anjos da guarda (Angels no original) e Madison Lee, Lúcifer, o anjo caído que se rebela contra seu criador, por não se contentar com sua posição inferior. Reparem que a luta final acontece em um teatro com a "Divina Comédia" ao fundo.
Apesar de exagerar em algumas sequências de ação absurdas, a maioria delas se mostram divertidas (como a frenética perseguição de motocross ou a fisicalidade mais brutal da luta com os marinheiros em um galpão). As Panteras: Detonando, apesar dos pesares, se mostra ligeiramente superior ao original por assumir o tom descontraído e surreal da saga com mais coragem e ousadia, numa experiência alucinógena, vibrante, colorida, ágil, infame e autoral, servindo como escape do cinema sério e sem identidade de muitas produções do gênero na atualidade.
Eu até ri um pouco, mas não simpatizo muito com a série - apesar de ser fã do Murray. Confesso nunca ter reparado na cena ao fundo da luta final. Bela percepção, Luiz.