"Quando alguém morre em um momento de terror,
nasce uma maldição,
que não perdoa nem esquece
e faz as pessoas morrerem,
vitimadas por uma poderosa ira."
Numa época em o terror japonês estava virando moda em Hollywood graças ao sucesso de público e crítica de O Chamado (The Ring, 2002) de Gore Verbinski, O Grito (The Grudge, 2004) chegava às telas, produzido por Sam Raimi e comandado por Takashi Shimizu, o mesmo da versão original japonesa.
A decisão de Raimi de manter o diretor da versão original, assim com o Japão como palco da ação e o elenco original de vilões de trama original: Kayako e Toshio, se mostrou acertada, dando um aspecto macabro e original muito bem-vindo à película. O mesmo não pode ser dito do elenco ocidental, com uma inexpressiva Sarah Michelle Gellar e um apático Bill Pullman. Os destaques são Clea Duvall, KaDee Strickland e Grace Zabriskie (que rouba a cena com seu olhar bizarro, ideal ao estilo do filme).
A estória é basicamente a mesma da versão original, que se baseia na lenda japonesa de que quando alguém morre de uma forma brutal motivado por enorme fúria, uma maldição se instala no local, consumindo a todos que entrarem ali. A maldição é o maior elemento assustador da estória, onde a onipresença dos vilões, amparado ainda pelo uso inteligente de medos primitivos do ser humano, como o escuro e a solidão, fazem o espectador suar frio em alguns momentos, por mais cético que este possa ser.
A produção também se mostra eficiente, com uma fotografia soturna que nos remete a um ambiente frio e ameaçador, assim como a direção de arte claustrofóbica, minimalista e atmosférica, além de uma montagem inteligente e criativa. A trilha sonora do ótimo Christopher Young se destaca também, com notas sinistras e fantasmagóricas, destacando momentos de grande tensão. E a direção de Shimizu também não fica atrás, priorizando momentos de silêncio que antecedem os de horror, onde uma manipulação competente de som, imagem e edição se mostram eficazes, resultando em momentos de gelar a espinha.
O Grito não foi tão bem recebido quanto O Chamado, mas apesar de muito criticado, tornou-se um grande sucesso de bilheteria, principalmente nos EUA. Muitos apontam furos na trama, a maquiagem amadora dos fantasmas e a superficialidade do roteiro como motivo para esnobar a produção. O fato é que o filme respeita a obra original, como a sua estória (mais didática aqui) e a forma como o horror é conduzido, se mostrando um filme de terror acima da média, com momentos aterrorizantes que fará você acreditar ter assistido algo maldito que te amaldiçoou para sempre.
Belo texto, Luiz. Esse é mais um filme que perdeu força comigo. Lembro que na época eu gostei muito - ainda mais porque detesto O Chamado -, embora, como você, não tenha gostado do elenco norte-americano. Porém, cada vez que revisito o filme eu o vejo como mais divertido do que assustador - principalmente pela presença do Raimi caçula e a cena da "lingüinha de fora"! O único aspecto que nunca deixou de funcionar muito bem comigo é a trilha sonora pesada e tensa de Young, como você muito bem lembrou, a qual considero uma das melhores dos últimos títulos do gênero. Talvez a saturação destas adaptações tenha influenciado o meu desgosto pelo filme (além da óbvia assossiação a O Chamado). Terei que rever com mais calma.
Contudo reforço: belo texto.
Valeu Cristian. Quanto ao filme, apesar dele também variar comigo, acabei gostando até mais na última revisão. 😁
E vem remake por aí....