Quem acha que Peter Jackson é apenas capaz de fazer filmes no estilo de sua obra-prima (O Senhor dos Anéis) se engana. Almas Gêmeas, filme lançado em 1994, que concorreu ao Oscar na categoria melhor roteiro original, é um drama dos mais bem retratados da década de 90. E ainda revela Kate Winslet, com uma atuação impressionante.
Baseado em uma história real, o filme conta o caso de Juliet e Pauline (Kate Winslet e Melanie Lynskey, respectivamente), duas jovens de 15 anos que, por compatibilidade de gostos, acabam se tornando amigas em uma escola na Nova Zelândia. Elas ouvem ópera, adoram cinema e escrevem um interminável romance de uma família real, construindo cenas, personagens e árvores genealógicas que remontam décadas. Passeiam, brincam, andam de bicicleta, tomam banho juntas e o imenso contato faz com que as duas se tornem inseparáveis.
O primeiro grande abalo é a distância que elas são obrigadas a manter depois de Juliet contrair tuberculose. Ela fica quatro meses em isolamento recebendo apenas uma ou duas visitas da amiga. Durante esse tempo, escrevem duas cartas por dia uma para a outra, uma delas com seu verdadeiro nome, e outra assinada com um personagem da história que criavam.
Após a saída do hospital, Juliet e Pauline se tornam ainda mais próximas. É interessante ver a fantasia que as duas constroem, vivendo em um mundo onde elas criaram e só elas têm acesso. Peter Jackson soube retratar muito bem essa magia que envolve as garotas.
Em dado momento, o pai de Juliet começa a desconfiar das atitudes das meninas, e desconfia que a proximidade das duas possa tê-las levado ao homossexualismo. Visita então a família de Pauline, e convence sua mãe a levá-la ao psicólogo. De nada adianta, as duas continuam muito próximas, desejando cada vez mais ficarem perto uma da outra. Pauline nutre um ódio incontrolável pela mãe, que vive repreendendo-a por suas atitudes. Juliet também tem problemas familiares, ela descobre o caso amoroso da mãe com um amigo da família.
Nesse confuso contexto é que as famílias decidem separar as meninas. Os pais de Juliet decidem se divorciar e querem levar a filha para morar com uma tia na África do Sul. Ela quer que sua amiga vá junto, mas, é claro, a família proíbe. Contudo, a força de vontade delas força o reencontro. Elas não comem, passam a não falar com a família até que conseguem se reaproximar. As famílias concordam que as duas devem passar as últimas três semanas juntas antes que Juliet parta. A partir de então elas vivem mais intensamente seus desejos e seus amores e, dentro dessa convivência, elas enfim concretizam o que vem sendo sugerido durante todo o filme: o caso de amor entre as duas.
Decididas a não se separarem, elas combinam os detalhes para o assassinato da mãe de Pauline, para que assim elas possam viajar juntas. A cena final é de nos surpreender, a Sra. Rieper, é assassinada a golpes de tijolo. Jackson, assim como na cena de sexo entre as garotas, não poupou força para mostrar a realidade do brutal assassinato.
Belas atuações de Winslet e Lynskey, que deram vida a duas garotas, uma pobre e incompreendida, uma rica e desafiadora, mas que se entendiam em um mundo particular onde os pensamentos e os devaneios ganhavam vida como uma história real. Eis um drama que mexe com nossos sentimentos, hora simpatizando com o amor das meninas e torcendo para que ele se realize, hora entendendo o choro e a reação dos pais em relação aos problemas que estavam sendo criados pelas meninas e que já não sabiam o que fazer em meio aos seus constantes ataques de rebeldia. Belo filme de Peter Jackson.
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