O filme “Trocando os pés” já de cara não me empolgou, tanto pela sua infeliz adaptação de título, quanto por se tratar de uma obra com Adam Sandler no papel principal, um dos atores mais nonsense de Hollywood, marcado por uma filmografia duvidosa e de péssimo gosto. Em seu acervo temos as bombas “Little Nick – um diabo diferente”, “Eu os declaro marido e... Larry”, “Zohan – um agente bom de corte”, e o mais horroroso de todos, “Cada um tem a gêmea que merece”, indicado na época em TODAS as categorias do Framboesa de Ouro, premiação esta que “prestigia” as piores produções cinematográficas, numa espécie de Oscar às avessas. Só na categoria de “pior ator”, Sandler foi vencedor quatro vezes. A meu ver, ele só não supera a mediocridade do ator Rob Schneider (“Garota veneno”), seu amigo na vida real, e o patético Mike Meyers (“Austin Powers”), igualmente sofrível.
Visto que, nem só de vergonhas e escolhas mal feitas se resume a carreira de Adam Sandler, de uns anos pra cá, ele demonstrou certo amadurecimento em sua carreira, não só por estar visivelmente mais velho, mas por se envolver em produções mais sérias, vez ou outra. Filmes como, “Tá rindo do quê?”, “Reine sobre mim” e “Homens, mulheres e filhos”, são bons exemplos disso, inclusive, no tocante a sua atuação, dando a entender certo empenho do ator, em, às vezes, tentar redimir sua imagem no mundo do cinema. Por tal motivo eu resolvi dar uma chance a este filme aqui, e sabe-se lá por que, Sandler optou por entregar novamente ao público um filme mediano e sem objetivo...
Aqui ele encarna Max, um homem desiludido, sem namorada, dono de uma sapataria pouco rentável, na qual ele nunca assume vocação. Pra piorar, ele tem uma mãe doente, da qual ele cuida e mora junto. Tudo parece estagnado e sem rumo, até que, ele descobre em seu porão uma velha máquina de consertar sapatos. A guinada em sua vida é instantânea, devido à geringonça ser mágica, pois, todo sapato após ser reparado nessa máquina, quando calçado por Max, transforma-o no dono do sapato, ou seja, dando-lhe a forma física da pessoa. Premissa ligeiramente interessante, se comprarmos a ideia de uma comédia a lá fantasia. É possível imaginar, por meio dos sapatos “encantados”, as diversas peripécias que poderiam ser feitas ao se assumir uma nova identidade. Muito poderia ter sido explorado diante de tal ideia, enfatizando a comicidade, as possibilidades, mas não, o filme assume uma forma discreta de humor, quase tragicômica, numa levada conceitual, tentando extrair de Sandler uma atuação mais intimista. Só que, estamos falando de ator não tem carga emocional pra isso, e de um enredo sem seriedade suficiente para suportar arcos dramáticos, portanto, de forma disforme e incoerente o filme não funciona.
Pra começar, o personagem de Sandler é um dos mais irracionais que já vi. Inicialmente ele nos é apresentado como alguém introspectivo, inofensivo, quase digno de pena, e no segundo ato, deslumbrado agora com a capacidade de tomar a aparência de seus clientes, o mesmo passa a ser envolver em enrascadas absurdas, colocando a si mesmo em perigo por diversas vezes, por decisões dele mesmo, sem o menor cabimento. Logo, a empatia conquistada no início dá lugar à inconformidade, afinal, as atitudes esdrúxulas do mesmo, algumas até mal intencionadas para alguém altruísta como ele, são de se indignar. Ou Max é muito burro, ou ele não tem amor à própria vida... Quase todos os acontecimentos aqui ocorrem sem finalidade, um dos exemplos disso se dá quando ele decide tomar a forma do namorado de uma modelo – no início do filme subentende-se o interesse dele por ela – para espioná-la no banheiro, sem uma conclusão plausível nesse mote. Sem contar que, suas transformações também poderiam ser mais bem exploradas, com figuras menos clichês, assim como as situações desencadeadas por isso. As trocas de corpos poderiam até ser a fim de ganho pessoal, e no quanto isso pode ser arriscado e subversivo, caso a motivação do personagem não fosse embasada em uma mera e ingênua molecagem, quase resultando em sua morte várias vezes.
“Trocando os pés” não tem tom escrachado, nem proposta pastelão, mas sua condução é totalmente sem propósito. O primeiro ato é até charmoso, promissor, levantando questões satisfatórias sobre a intervenção das imobiliárias nas grandes cidades, a militância em favor do patrimônio contra o capitalismo, entre outras. O equívoco, conforme a trama se desenvolve, surge por causa das subtramas destoantes, e pelo foco recaído na desprovida luta contra o despejo de um idoso, o qual não tem ligação afetiva nenhuma com Max. São muitas pontas soltas, questionamentos válidos levantados sem fechamento, tudo muito confuso, desconexo, sem dizer a quê veio. Um dos momentos mais bizarros do longa é quando ele calça um sapato do pai e oferece um encontro romântico a própria mãe. Tudo bem, seu pai abandonou a família há anos, sem explicação ou qualquer tentativa de retorno, e para atender a um grande desejo da mãe fragilizada, de jantar novamente com o seu amor, ele se passa pelo pai. A intenção é boa, mas a execução é estranha. Juro que se rolasse um beijo entre mãe e filho nessa hora, eu não poderia mais acompanhar o desenrolar da história...
Como se não bastasse toda essa incongruência, o desfecho é ainda mais estapafúrdio. Na metade do filme eu já tinha sacado a reviravolta final, talvez por isso o resultado geral me tenha sido tão insatisfatório. Independente disso, o argumento de conclusão é preguiçoso, boçal, e extremamente esfarrapado.
Por fim, longe de ser grosseiro como habitualmente são os projetos estrelados por Sandler, “Trocando os pés” é singelo, bem intencionado, entretanto, descartável. Trata-se apenas de um apanhado de situações mal elaboradas, previsíveis e inadequadas à própria ideia do roteiro, pecando por não emplacar nenhuma de suas promissoras investidas.
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