O gênero do terror na visão oriental, quase numa escala unânime, sempre é explorado sob temas sobrenaturais que se restringem à figuras fantasmagóricas.
Por sempre usarem a mesma fórmula, não é de hoje que se desgastou o sub-gênero “terror psicológico”.
No mesmo caminho, temos os produtores de Hollywood que há anos, incentivados estritamente pela bilheteria, clonaram o tal “padrão de terror oriental”, e é só o que há desde então (maldita seja a influência de “O chamado”!!!).
Por este motivo, os filmes de terror (e não somente esta categoria) tem se tornado infelizmente uma espécie de compilação generalizada.
O filme “The uninvited”, que no Brasil tornou-se “O mistério das duas irmãs”, exemplifica bem essa era desprezível que impera em Hollywood.
O longa é uma adaptação americana da produção sul-coreana intitulada de “Janghwa, Hongryeon” (Nos EUA é “A Tale of Two Sisters” ) lançada em 2003. No Brasil, o original sul-coreano ganhou a tradução de “Medo”.
O roteiro é obviamente um carbono do oriental. Alteram-se os nomes, as locações, mas a essência da estória e dos personagens continua intacta.
A sinopse é esta: Anna (Emily Browning) e Alex (Arielle Kebbell) são irmãs e muito apegadas. Anna, a caçula, após presenciar a morte da mãe doente – resultado de uma explosão ocorrida no quarto em que a mesma costumava ficar –, se vê em um internato tentando se reabilitar do trauma, sem conseguir ao certo encaixar as razões pelas quais ela foi parar lá. Enquanto Alex tem certeza de que sua mãe foi assassinada pela madrasta Rachel (Elizabeth Banks), que trabalhava como enfermeira da mãe convalescente no local.
Ambas ao voltarem, simultaneamente, para a casa do pai, tentam desvendar o mistério da morte, a fim de revelar o responsável.
Nesse meio tempo, Anna passa a ver o fantasma de sua mãe que, parece indicar-lhe as pistas necessárias para se concluir o mistério. Devido aos indícios e ao comportamento estranho da madastra, as suspeitas contra ela só aumentam.
Bom, voltando à atenção ao roteiro, o mesmo possui alguns ingredientes básicos que, na verdade, servem mais como regras mesmo: a casa velha que faz ruídos; os sustos previsíveis; o corredor mal iluminado; o lago próximo a casa; a mocinha com roupinhas sem graça, de personalidade ingênua e curiosa; a nímia quantidade de sangue nas cenas, e por aí vai. Tudo muito aborrecido.
É certo que muitos filmes de terror consagrados também fizeram uso de alguns desses clichês, o problema é que essas produções infames extrapolam. Um bom roteiro, personagens bem elaborados, enquadramentos precisos, o uso da sonoridade como um apoio e não como a razão, são recursos em extinção nos filmes de terror.
Quanto à trama, esta se desenrola de forma lenta (outra característica irreparável do gênero), com um susto óbvio aqui, outro ali, além da presença de algumas figuras assustadoras. E logo o filme atinge seu ápice, seguindo todos os moldes já experimentados – vimos recentemente esse mesmo padrão sendo utilizado em “Evocando espíritos” – para render-se a conclusão.
E é aí que entra o único "escape" do longa: seu desfecho inusitado; a única razão para não o eliminarmos de vez do rol de filmes que, pelo menos entretem, mesmo quando inúteis.
O problema é que "O mistério das duas irmãs" deixa transparecer descaradamente seu único interesse que é apenas surpreender no final, independente do quanto tenha sido pífio o enredo até chegar ali.
É certo que a reviravolta do final é realmente surpreendente, com certeza méritos da inspiração de “O sexto sentido (1999)”, mas não há justificativa para um filme não se importar com seu contexto, somente para entregar um fim inesperado.
“Os outros (2001)” também utilizou uma tática similar para entregar algo imprevisível, porém, isso foi feito de forma bem sofisticada, sem deixar em nenhum momento sua própria identidade ser ofuscada.
Essa é a diferença entre utilizar uma referência e depender totalmente dela, como fez “O mistério das duas irmãs”.
Portanto, ao que parece, os irmãos Guard não levaram muito em conta o fato de dirigirem uma estória já existente, pois, ao recriarem a trama totalmente dependente do final (sem dúvida a parte mais relevante), fazem com que o filme só não seja comprometido caso o espectador não opte por ver primeiro a obra original sul-coreana.
Pelo sim pelo não, se isso acontecer, nada mais se salva, nem sequer o elenco...
E por falar em elenco, temos Elizabeth Banks interpretando a madrasta e comprovando que esse tipo de papel não se encaixa em sua pessoa. Enquanto a insossa Emily Browning, sendo aqui a mais convincente ao representar, erra feio na composição desleixada da personagem (que cabelo e que roupas são aquelas???). Já Arielle Kebbel continua sendo a mesma "garota - coadjuvante - de - filmes - inexpressivos".
Por fim, concluindo o paralelo entre o remake e o original, alguns podem não concordar, mas a obra sul-coreana dá um banho de superioridade. Os elementos utilizados por eles para se provocar o medo são bem mais elaborados, desde o clima aterrorizante da estoria às críveis atuações. Com isso, a mediocridade americana, por se intrometer em um estilo que não é seu, só é mais uma vez ressaltada.
Eu, particularmente, acredito que Hollywood só tem insistido em dar vida a essas "bombas", por um único e infeliz motivo: ainda há um considerável público pra isso. Até mesmo quem não curte, como eu, acaba contribuindo para com a bilheteria, mesmo que involuntariamente...
Por isso, eu imploro: não seja você mais um.
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