Se existe um filme que pode ser classificado como original por utilizar recursos de aspecto amador no que tange à filmagem é “A bruxa de Blair”.
O mesmo estreou sob a especulação de ser uma reprodução de uma fita supostamente encontrada em meio à floresta de Black Hills nos EUA por uma equipe de busca que vasculhava o local a procura do paradeiro de três jovens estudantes de cinema.
O conteúdo da fita filmado pelos próprios jovens, segundo as hipóteses, registrou o tenso momento pelo qual eles passaram na floresta até desaparecerem totalmente enquanto tentavam realizar um documentário sobre a lendária bruxa da região.
Sem dúvida, essa foi uma das jogadas de marketing mais bem-sucedida da história do cinema, pois até hoje existem aqueles que ainda acreditam na veracidade dessa versão.
Mediante a isto, pouquíssimas, mas insistentes projeções surgiram ao longo dos anos aderindo ao estilo e buscando assim uma ponta que seja de sucesso.
Julgando então os filmes adeptos da “gravação caseira”, é incontestável o fato de que os mesmos seguem à risca as inerentes características estruturais oriundas de o sobredito “A bruxa de Blair”: cenas visualmente limitadas; cortes grosseiros; introdução e desfecho amorfo, e o clima realista e angustiante.
Se este não foi o responsável por lançar a moda, certamente popularizou a técnica, portanto, não tem como ele não ser a maior referência no quesito.
É claro que cada filme tem uma proposta diferente, como por exemplo, “Cloverfield – o monstro” e o espanhol “REC”, mas no fim é tudo efeito de um mesmo produto. Não são nada mais do que filmes pretensiosos e propositalmente "mal produzidos", com estórias que relativamente assustam pelo fato de retratarem uma situação utópica de forma verossímil.
O longa “A bruxa de Blair”, no entanto, é o único autêntico nesse âmbito, não por serem verdadeiras as suas alegações, mas por ser ele a maior inspiração desse estilo cru, de ângulos mal direcionados e tremidos. Portanto, por não haver mais novidades nessa questão, não vejo motivos para que mais filmes nessa linha surjam.
Mas ao que parece, o diretor (se é que posso denominá-lo como tal) Oren Peli, não obstante, pensa de outra forma.
Ao estrear no ramo da sétima arte, ele criou sua primeira obra conhecida como “Atividade paranormal”, um suspense que foi sucesso absurdo de bilheteria e também identificado por muitos como o mais competente herdeiro do supramencionado “A bruxa de Blair”.
Reconheço que não se pode simplesmente desmerecer esse filme. Ele, apesar de oferecer bem menos do que propagam, tem lá seus momentos... insuficientes, mas tem.
Um fato interessante no tocante ao mesmo foi à idealização de Peli com relação à estória. Até onde sei, o roteiro teve bastante improviso e muitas alterações no decorrer de suas filmagens. O próprio desfecho foi refeito para que quando lançado alcançasse por sua vez um apelo mais pasteurizado.
Devido então a inesperada ascensão do trabalho assinado por Peli, surge a pergunta que não quer calar: o que faz de “Atividade paranormal” um filme tão solicitado? Ou melhor: como um filme filmado integralmente por uma única câmera, esta sendo utilizada muitas das vezes sob o recurso de “visão noturna” (uma imagem que não privilegia a visão do espectador), pôde arrastar tantas pessoas para o cinema?
Eu confesso: ainda não encontrei o porquê do êxito junto ao público, sinceramente...
Primeiramente, o filme tem aproximadamente uma hora e meia; nesse período, somos apresentados a um casal denominado como Katie e Micah, interpretados por neófitos atores de nomes homônimos. O cotidiano deles representado é o mais normalesco possível. Se o filme pode ser elogiado é exatamente por esse ponto: a naturalidade dos atores.
Quanto ao desenvolvimento da trama, gradativamente nós nos deparamos com o drama de Katie que começa a sentir-se coagida por uma presença maligna. Por vezes ela chega a afirmar que é possível sentir até sentir a respiração da tal entidade.
Diante disto, por iniciativa de marido, eles decidem filmar constantemente sua rotina doméstica em busca de qualquer evidência sobrenatural, inclusive, nos momentos em que estão dormindo.
Agora pensem em momentos extremamente fastidiosos em que uma lâmpada piscando, ou um vulto na parede são guardados justamente para a conclusão porque não há nada mais contundente a se mostrar durante o longa. Pensou? Pois é, isso é "Atividade Paranormal".
Devido a isso, eu posso atestar que todas as tentativas aqui de se retesar o espectador são pífias e óbvias. E como consequencia desse fato, fica a impressão de que não existe um roteiro, e sim, uma comumente representação do dia-a-dia de um casal, esta tão arrastada como a de qualquer mero mortal, exceto pelos frugais momentos tensos envolvendo, como já disse, vultos e luzes se auto-acendendo.
Talvez prevendo a apatia pela qual o filme seria envolvido, Peli decidiu inserir uma desnecessária cena de uma moça que havia passado pela mesma situação de Katie e agora tinha seu vídeo disponível na internet revelando o fim que a mesma teve.
O casal mobilizado a assistir o tal video, confere no mesmo uma réplica inópia de “O exorcista” com direito a uma moça amarrada na cama, com o rosto desfigurado e aparentemente possuída, fato este que não ajuda nem acrescenta nada ao filme.
Por fim, o único momento, digamos, assustador de "Atividade paranormal" se dá unicamente em seus minutos finais, visto que, o espectador para contemplar o tal momento, precisará de uma apurada paciência, senão, desistirá antes mesmo de o filme chegar a sua metade.
No mais, é totalmente certo o que muitos afirmaram: “Atividade paranormal” funcionou para alguns, já para outros ele não passou de uma imensurável experiência bizarra.
Nem o fato de sua bilheteria ter sido um sucesso, garante que todos tenham gostado - eu mesmo sou um dos representantes contrários.
Por isso, só recomendo uma coisa com relação ao filme: se você é uma daquelas pessoas que não se satisfizeram com a exibição de “A bruxa de Blair”, então nem pense em assistir a este filme aqui. Imagine-o como uma sequencia piorada... preciso dizer mais? Acho que não.
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