GRANDES MOMENTOS DO HIPOTEXTO HOMOAFETIVO ou O ACIDENTAL TRABALHO DE ANTAGONISMO CULMINANTE À UMA PAIXÃO EGODISTÔNICA
Seria esse o caso em que uma indústria de filmes B produz em primeira mão para Hollywood uma história de terror sobrenatural convictamente ateísta e hipoteticamente esconde homoafetividade em seu subtexto?
Longe das atuações esforçadas, do roteiro preguiçoso, das escolhas ingênuas da produção, do texto meia-boca ou das esquetes ridículas, temos a belíssima discussão sobre uma das histórias jamais explicadas do underground americano.
Jim e Brandon, ex-amigos, o amor de Linda, a jovem universitária, e um quase triângulo amoroso, Linda, a que esteve com o segundo, a que está com o primeiro e a que não supõe que na verdade, talvez, nunca esteve com nenhum dos dois.
Uma tábua Ouija e o contato com o segundo plano espiritual faz surgir David, o espírito maligno disfarçado de gasparzinho, tudo por culpa dos equívocos de Brandon, grande entusiasta esotérico, ateu e bem-sucedido, que estranhamente além de possuir uma casa tão bonita quanto a de seu ex(-amigo), o mal-sucedido e carpinteiro Jim, também crê em espíritos.
Mas, antes e no desenrolar da procura de apartar essa alma penada dos caminhos da vida desses jovens, algo muito mais interessante acontece, digo: a desgraça faz a união de Jim e Brandon (em quase todos os sentidos):
Antes: intrigas passadas constroem a tempestade do presente: a amizade de infância, a namorada, a faculdade largada por um e empenhada por outro, desunião, dramas e conflitos colocam um contra o outro.
No desenrolar: a cena-chave se situa num motel de estrada, uma escova de dentes compartilhada, um "O que está acontecendo conosco? Éramos como irmãos.", acompanhado de um "Sabe de quê eu tenho mais medo? De eu nunca ser capaz de amar ninguém e de ficar o resto da vida completamente sozinho"
...E ainda um fantasma bem revoltado, o do tipo que deve estar por aí por um bom motivo: o de restaurar a comunhão entre essas duas almas separadas, mas, porra, fantasma! por que você matou um deles então? Bem, porque esse não é o tipo de fantasma que resolve as coisas tão fáceis assim.
Pobre Brandon, morto com uma machadada, deixou em frangalhos o coração de seu bravo companheiro em vida, bem, mas, como eu havia dito, esse não é o tipo de malfeitor do segundo plano astral que resolve as coisas sem sofrimento e aí é que está o motivo dessa estória não acabar aqui. Linda possuída pela alma do malfeitor entra numa luta corporal com o noivo, a luta que põe a vida da jovem em risco à custa de se livrar desse louco fantasma, contudo, Jim não quer se livrar de sua companheira, ao invés disto, ele tem a engenhosidade de destruir a tábua ouija e levar o fantasma eternamente para fora de suas vidas, é, que alívio, o alívio que os leva para o altar sagrado do matrimônio.
Tá, e daí?
Ah, os finais felizes, estes não foram feitos para os filmes de terror, olha, do que adianta Jim e Linda casados nesse final? O fantasma queria era resolver a existência de Jim, restaurar o emocional do moço, porém, foi subitamente atraiçoado e repelido, excomungado da ideia de por a felicidade do jovem carpinteiro em uma outra direção. Sim, sim, ou "yes", respondendo a dúvida da governanta, a de que "não sei se isto ainda funciona", imagina, com todos esses buracos de bala? No meio do lixo mesmo, a tábua ouija se move na prancheta respondendo o que é o verdadeiro "sim" desse filme: "yes" claro, ainda funciona, responde o indomável fantasma no escrito da tábua.
Pobre, Jim!
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