"Você está me perguntando como o relógio foi feito. Por enquanto, mantenha a atenção apenas no tempo."
O novo filme de Denis Villeneuve, Sicario: Terra de Ninguém, é uma espécie de cruzamento de elementos de Traffic, Tropa de Elite e Dia de Treinamento. Do primeiro, pega-se o combate aos cartéis de drogas mexicanos. Do segundo, a força policial que não se intimida em cruzar os limites do certo e errado para desempenhar suas funções. Do terceiro, o novato (a novata, no caso de Sicario) que não concorda com os métodos do oficial mais experiente, ainda que esses se mostrem mais eficientes do que fazer as coisas conforme a lei. Porém, estamos diante de uma obra com personalidade própria, possivelmente a mais madura e bem resolvida de seu diretor - ao menos se considerarmos seus últimos três trabalhos, que foram os que assisti. É também um filme que não teme abraçar o pessimismo renegado no terceiro ato de Os Suspeitos, algo que quase arruinou aquele ótimo filme.
Situado na fronteira entre Estados Unidos e México, local disputado por diversos cartéis de drogas rivais, Sicario nos apresenta à Kate Macer (Emily Blunt, segura demais, provando que dificilmente erra), que depois de um bom tempo na linha de frente de uma divisão responsável por resolver os sequestros arquitetos pelos chefes do narcotráfico sem alcançar resultados verdadeiros no combate a esse problema, se oferece como voluntária para uma força-tarefa responsável por desmantelar um dos mais poderosos cartéis da região. Essa equipe é liderada pelos enigmáticos Matt Graver (Josh Brolin, ótimo) e Alejandro (Benicio Del Toro, talvez o melhor do elenco, misturando sua expressão sempre controlada, que o torna ainda mais ameaçador quando protagoniza atos de violência), que parecem sempre saber muito mais do que revelam para Kate e não se importam em serem "um mal necessário" e desrespeitarem leis se isso os colocar mais próximos de seu objetivo final - nem mesmo em usar Kate no processo, numa maneira corajosa de quebrar nossas expectativas sobre a heroína do filme.
E se chamei Kate de heroína no último parágrafo, isso se deve muito mais a sua posição como bússola moral e avatar do espectador na narrativa do que ao sentido habitual da palavra, já que as ações protagonizadas por ela quase sempre a diminuem diante de Matt e Alejandro. Cada descoberta de Kate e cada debate ético iniciado por ela parecem refletir a posição do espectador diante dos acontecimentos, algo que, felizmente, o roteiro de Taylor Sheridan faz com cautela, sem apelar para exposições, já que mantém dúvidas na cabeça da protagonista e do espectador até o fim. Outro acerto de Sheridan, é a maneira como retrata os mexicanos ao longo da produção: se em alguns momentos parece haver a intenção de apelar para caricaturas xenofóbicas, logo percebemos que são deslizes isolados, pois o texto humaniza aquelas figuras, não só através do policial corrupto Silvio (Maximiliano Hernández), mas também dos imigrantes ilegais vistos em um momento importante do longa, que ganham família e rostos, nos forçando a perceber que todos ali são seres humanos e todos perdem com a guerra sem fim do e contra o tráfico.
E se algo parece ficar explicito em Sicario é esse "sem fim" mencionado anteriormente. Seja no cansaço constantemente exibido pela personagem de Blunt, seja na brilhante cena final, que mostra que naquele cenário um rei morto é só o começo do processo para um novo rei posto, cada passo adiante na luta contra o narcotráfico é também dois para trás, parecendo apenas motivar ações cada vez mais violentas de ambos os lados e uma linha mais e mais embaçada dividindo o certo e o errado. Não surpreende, então, que Matt pareça ansioso não por erradicar todo o tráfico na fronteira, mas sim em devolver o controle a apenas um único cartel, voltando a uma época em que sua luta era menos complicada e traumática. Uma postura de resignação que quase deixa transparecer alguém que já foi idealista e percebeu que isso não levaria a nada, resultando no homem de sandálias e jeito fanfarrão que tenta derrubar com as mãos um edifico sólido apenas para perceber que sem apelar para outras ferramentas jamais sairá da estaca zero - e mesmo com estas não completará sua missão. Daí que não é difícil imaginar que após uma hesitação ao final do filme, a própria Kate precisará escolher entre se retirar da batalha ou se tornar "uma loba", por que ideais não combinam com aquele cenário.
Não que Villeneuve aceite a política de combater fogo com fogo, esquecendo as leis e a ética. Por mais que o espetáculo cinematográfico proporcionado pelo canadense seja de primeira, com cenas de ação de tirar o fôlego, como aquela preparada minuciosamente em um engarrafamento ou outra passada em um túnel, onde o diretor brinca com tomadas filmadas com uma lente de visão noturna ou em subjetivas de visão de calor - cortesia do sempre fascinante Roger Deakins -, não existe aqui o elemento da catarse puramente cinematográfica tão comum em filmes policiais. Daí uma vingança pessoal ser encenada como o que é, uma execução cruel e fria, com crianças morrendo fora do quadro. Por que para Villeneuve e Sheridan não existem heróis e vilões, apenas pais sem filhos e filhos sem pais, em um lugar onde os risos são apenas uma pausa no som dos tiros disparados de ambos os lados.
MATA A COBRA E MOSTRA O PAU!!!
E PARABÉNS PELOS SEUS NUDES QUE VOCÊ ACABOU DE MANDAR PEPE, NICE CU. ADORO
O pau eu mostro mesmo, mas ninguém vê pq é pequeno.
(só o Lipe gosta, pq me ama)
(2) no primeiro comentário do felipe