Jovens, loucos e rebeldes.
A juventude banal, fútil, narcisista, inconsequente e deturpada. Um monte de palavra grande, né? Pois é tão fácil criticá-la quanto é fácil entender porque chegou a esse ponto. É um do temas mais interessantes de serem abordados atualmente, algo que vem sendo feito com maestria por diretores como Larry Clark, Sofia Coppola, Gus Van Sant, Catherine Hardwicke (brincadeirinha) e, por último mas não menos importante, Harmory Korine.
Korine, escritor de “Kids”, seu primeiro roteiro, trabalhou logo na estreia com o experiente Larry Clark, fazendo um filme que é marcado por ser controverso, abordando temas como skatistas, drogas, violência e Aids.
Logo em seguida, Korine fica mais "underground" ainda e traz “Vida Sem Destino” pra brincadeira, com uma premissa que não parece ter um objetivo claro, sendo apenas uma visão quase que documental de uma cidade pequena, pessoas simples e suas vidas niilistas.
Korine é um cara estiloso, mas no sentido mais profundo da palavra. Seus filmes têm uma marca pessoal, mas que nem sempre agrada o público. Seja pelo ritmo por vezes lento, ou talvez pela crueza das imagens, muita gente não vai com a cara dele.
Spring Breakers é exemplo disso. Cru, com imagens fortes e personagens que muitas vezes são julgados como de mau gosto pelo público. Quem viu o filme esperando por festas regadas a álcool onde tudo é risada, esbórnia e sexo se decepcionou.
Personagens como Faith (Selena Gomez), que vai à Igreja e confessa, mas a noite toma cinco shots de tequila na festa, além de Candy (Vanessa Hudgens) e Brit (Ashley Benson), que consideram um príncipe o rapper Alien (James Franco), um traficante de drogas, com suave fetiche por armas e exímio ostendador. Alien mostra para as meninas um mundo que elas tanto se esforçam pra fazer parte, seja porque é “cool” ou porque querem se rebelar. Já viu esse filme? São personagens comuns no dia a dia. Estão em todo o lugar.
Um filme que parece vazio (bebidas em excesso, topless e drogas) mas que traz personagens complexos, cheios de frustrações e que não querem nada além de viver cada segundo da vida, sem pensar nas consequências. Um retrato fiel de uma parcela da juventude atual, que não é nem tão pequena assim.
A câmera do diretor é algo a parte. Seja pelas imagens das garotas de biquíni tocando Britney Spears à capela no piano e o pôr do sol ao fundo, ou pelo triângulo amoroso entre Alien, Brit e Candy em cena, com sensualidade e provocação. Além de trilha sonora que vai do Rap ao Pop, o que não deixa de ser bem coerente.
Aos poucos a consciência vai batendo nas meninas, por vezes tarde demais. Algo que só serve para exemplificar uma das principais mensagens: elas estão erradas e sabem disso, mas insistem no erro. A troco de quê?
Talvez Korine erre quando tenta se render a algo mais complexo, como a disputa entre gangues ou troca de tiros insandecidas, mas é um diretor que está se conhecendo, construíndo sua marca aos poucos, pra quem sabe no futuro fazer parte de um grupo seleto.
Quentin Tarantino vendeu seu roteiro a Oliver Stone, Korine vendeu seu roteiro a Larry Clark. Richard Linklater falou de drogas, niilismo e bebidas em “Jovens, Loucos e Rebeldes” e “Slacker”, Harmory Korine abordou os mesmos temas em “Vidas Sem Destino”, “Kids” e “Spring Breakers”. Fica a reflexão: até onde ele pode chegar?
Mas nenhuma reflexão supera a que é carro chefe do filme: vale tudo a troco de prazeres passageiros? Será que é só isso que nossa geração atual tem a oferecer?
Filmaço! Belo texto caro!