"Sabe, às vezes eu percebo que as pessoas agem diferente ao saber que estive no Vietnã. A cara, os olhos, a voz, a forma como te olham."
Oliver Stone foi e é um diretor e roteirista muito criticado por vários de seus trabalhos, como Alexandre, W e Torres Gêmeas. E é elogiado por outros, como o roteiro de Scarface e O expresso da meia-noite e a direção de Assassinos por natureza e, principalmente, pela sua trilogia do Vietnã: Platoon, Entre o céu e a terra e Nascido em 4 de julho, os dois Oscars que ganhou provam isso. Neste ultimo, que considero seu melhor trabalho, Stone mostra toda sua competência e habilidade.
Ron Kovic é um rapaz, competitivo, idealista e cheio de sonhos. Desde criança queria servir o exército e defender o pais que tanto ama, ele mora numa pacata cidade e tem uma família típica americana, patriota, também idealista e cristã. Desde criança ele é apaixonado por Donna, que também o ama. Ron se alista no exercito e é mandado ao Vietnã, onde acaba sem querer matando inocentes e um colega de campo. Então em batalha Ron leva um tiro no pé e depois no peito, tiro que atravessa seu corpo e acerta a sua coluna o deixando paralitico. Ao retornar para sua cidade natal, ele terá que lidar com a sua condição física.
“Quando fui atingido no pé poderia ter ficado deitado. Quem liga se fui um herói de guerra? Nesse dia fiquei paralisado e castrado. Por quê? Eu acho que daria tudo que tenho todos os meus valores para ter o meu corpo, estar inteiro.”
O que não falta em Nascido em 4 de julho são criticas, algumas muito sutis, como a cena em que a mãe de Ron troca do canal de noticias sobre a guerra para um programa cômico. Outras são mais claras, a cena em que os amigos zoam um colega por não querem ir a guerra “Deixe que os homens vão para guerra lutar”. E claro a critica sobre os males da guerra, males físicos e psíquicos e sobre como as pessoas lidam com isso. Ron perde praticamente tudo por causa de uma guerra que ele acreditava, até o grande amor de sua vida. Isso fica bem óbvio no primeiro encontro de Ron com Donna após seu retorno do Vietnã, ela o olha com uma afeição de carinho e pena, algo muito diferente do que vimos no baile, ao som de Moon river (do clássico Bonequinha de Luxo), aonde o amor dos dois se mostra completo e percebemos que o amor, pelo menos o amor que Donna queria, não é mais possível.
O mais interessante do filme, a meu ver, é que ninguém está totalmente certo, Ron está errado de tentar defender uma guerra sem proposito só porque lutou nela, as pessoas estão erradas em ignorar os problemas que os cercam, o irmão de Ron está errado ao criticar as pessoas que lutaram no Vietnam sem nunca ter ido, feito e visto oque lá ocorrera, a mãe está errada em querer que seus filhos ajam da maneira que ela quer e acreditar no que ela acredita. É um filme de incertezas e arrependimentos, que como o próprio Ron fala, não podem ser desfeitos.
O filme emociona em varias cenas, Ron se confessando para a família do soldado que ele matou é realmente de dar nó na garganta, assim como a discussão de Ron e sua mãe (minha cena predileta do filme), onde ele mostra que a guerra matou até a sua fé, não querendo dizer que a fé é importante para todos nós mais era algo que era muito importante para ele.
Tom Cruise está realmente maravilhoso, seu personagem é muito complexo e Tom consegue fazer fluir todos os sentimentos. O resto do elenco também trabalha muito bem, em especial Willen Dafoe que faz uma participação pequena mais bem aproveitada. Oliver Stone se mostra realmente competente, com uma câmera que quase nunca para e com o seu roteiro, que foi adaptado do livro do verdadeiro Ron Kovic, que é ao mesmo tempo devastador e esperançoso.
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