O filme já começa repentinamente com um homem misterioso atirando na cabeça de um desconhecido envolto em um lençol.
Daí, os créditos com o nome do filme aparecem e a cena corta para um belíssimo enquadramento de NY vista de longe, com as (ainda de pé) Torres Gêmeas.. Um barco à deriva navegando sem destino e uma música calma, bastante agradável que, em poucos minutos, serviria de contraste ao primeiro momento verdadeiramente nojento do filme e que já nos dá uma breve noção do que está por vir.
Incrível o quanto o Fulci é simplesmente genial por fazer um filme tão grande com tão pouco, afinal o elenco de protagonistas, com exceção do Dr. Menard (Riichard Johnson), é de fazer vergonha de tão ruim (e o orçamento que não foi dos melhores). Mas isso é realmente insignificante aqui.
O que interessa mesmo são os demais detalhes de sua obra. A trama é simples e vaga, como de costume no horror italiano (salvo algumas exceções aqui e ali – Romero, a exemplo), mas a direção segura é um dos pontos mais fortes do longa, ao lado do apuro estético (outra característica dos filmes de horror italianos –o cinema no resto do mundo nunca usou tão bem as cores em filmes), com destaque à caracterização dos zumbis. Diferente dos de Romero (quer queira ou não, ele é o referêncial para esse tipo de análise), que eram apenas pessoas com maquiagem azul ou branca no rosto, estes aqui se mostravam como cadáveres putrefatos. Isso, além de conseguir chocar mais o espectador com cenas bem mais nojentas, enriquecia o filme pela maior possibilidade de variar nas cenas. Em alguns momentos, temos zumbis normais, apenas com maquiagem pálida, outros bem mais 'estragados', com vermes nos olhos, alguns eram apenas esqueletos e outros faltando membros do corpo. Tudo feito do modo mais realista possível.
Algumas cenas são antológicas e merecem destaque aqui, como a do morto-vivo lutando contra um tubarão (!!!) no fundo do mar e a mais arrepiante e tensa do filme:
Outro grande feito do filme é a sua trilha 'enxuta'.
As cenas são embaladas pelo silêncio e aos poucos (e somente quando necessário), a música entra, diferente dos infames filmes de terror atuais, onde a cada 5min empurram um agudo pra 'dar um susto' (sabe, né? O cara tá ali pra abrir uma porta e 'DÃÃÃÃÃÃÃÃÃ!!!'.. E é apenas um amigo que deu um tapinha nos ombros!¬¬), coisa que figura na minha lista dos vícios mais irritantes dos filmecos de terror de hoje.
O maior exemplo da boa utilização da trilha é quando a esposa do Dr. Menard (vivida pelo belíssima Olga Karlatos) sai do banho e nota pelo espelho que há alguém na casa. Cuidadosamente se dirige ao banheiro e tenta, sem muito alarde, fechar a porta. Ela não consegue na primeira e continua empurrando. Nada demais, pelo menos por uns 10 segundos, quando a música sinistra 'cresce' aos poucos e percebemos que o real motivo dela não fechar a porta é que há alguém do outro lado a impedindo (alguém lembrou de Michael Myers?) e, nessa hora, a tensão começa a embalar, alcançando o ápice na cena mais angustiante do filme: após encurralada no banheiro, ela luta para fugir mas é agarrada por um dos zumbis e puxada lentamente pelos cabelos. O clímax da cena é quando seu olho direito está prestes a ser perfurado por uma estaca de madeira. Uma cena de fazer qualquer um se arrepiar ... E muito bem feita (dá pra sentir a dor do olho sendo varado e arrancado)..
Outra sequência fantástica, é a dos mortos se erguendo de seus túmulos, em pleno cemitério. Cena muuito bem feita, extremamente genial. Ademais, é a tradicional correria de sempre, culminando num embate direto na igreja, onde tacam fogo nos mortos (aliás, bem feitíssima as cenas dos zumbis caminhando lentamente mesmo com os corpos em chamas). Nem o fato de terem usado o mesmo plano da explosão umas 50 vezes seguidas diminui o momento (na verdade, até pode entrar como mérito, uma vez que demonstra a versatilidade do Fulci diante das limitações ao seu trabalho).
Para completar, o filme passa um contraste belíssimo da floresta agitada e sombria à noite partindo ao mar calmo durante o dia. Os protagonistas ligam o rádio e ouvem as notícias da invasão à NY.
E a cena mais 'bela' do filme: os mortos-vivos caminhando lentamente pela Ponte do Brooklin enquanto os carros passam por baixo, ao som da trilha sonora (que música fudida da porra ... ADOREI) e o carinha berrando no rádio "Atenção! O perigo é real! Tranquem suas portas e aguardem por.. Hum? O que? Ah, não! Eles entraram! Aaaaaahh ....".
Fulci, dois anos após, ainda faria aquela que é sua obra-prima definitiva: The Beyonder (aqui no Brasil, com o título ridículo de Terror nas Trevas), um filme denso, de atmosfera insana e angustiante, dos mais brilhantes já feitos com na história do horror, fazendo frente até mesmo aos grandes clássicos do Romero (entenda “grandes clássicos” como os dois primeiros ”... Of The Dead”), Argento e Bava (só para citar - novamente - os mais importantes).
Mas é um crime ignorarmos a importância desse que é indiscutivelmente um dos melhores e mais revolucionários filmes de horror já feitos.
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