Já foram feitos inúmeros filmes sobre a vida de Cristo, desde obras que desrespeitam sua história: A Última Tentação de Cristo dirigido por Martin Scorsese em 1988 e Jesus, um péssimo telefilme de 1999, até obras abrangentes: O Rei dos Reis, dirigido por Nicholas Ray em 1961, A Maior História de Todos os Tempos, dirigido por George Stevens em 1965 e Jesus de Nazaré (o maior de todos em duração, cerca de 5 horas), realizado por Franco Zeffirelli em 1977 e preferido pela comunidade cristã em muitos países. Até mesmo um ateu já dirigiu um filme sobre a vida de Cristo, foi o italiano assumidamente homossexual Píer Paolo Pasolini e o seu O Evangelho Segundo São Mateus em 1964. Porém, a obra de Pasolini ao contrário do que se esperava de um diretor polêmico como ele, não desagradou, muito pelo contrário, foi vista como um dos melhores filmes sobre o tema já realizados.
Em 2004, o ator e diretor americano (não australiano como muitos pensam) Mel Gibson realizou o mais polêmico de todos, o violento A Paixão de Cristo. Gibson é católico fervoroso, e pretendeu mostrar nas telas o que segundo ele são “As últimas 12 horas da vida de Cristo”. Cristo é preso, negado por Pedro, julgado e condenado à morrer na cruz (assassinos e malfeitores eram mortos na cruz na era do Império romano). Gibson pretendeu mostrar que o único homem perfeito da face da terra sofreu torturas como ninguém antes de ser pregado numa cruz e morrer, em conseqüência de acusações de coisas que ele nunca foi ou fez em toda a sua vida. O filme t
em flashbacks que mostram passagens como a infância de Cristo, sua mocidade, o Sermão da Montanha, a convivência com a sua mãe e o encontro com os discípulos, num paralelo com as cenas do sofrimento. Ali por perto está Judas, atormentado por estranhas figuras que o perseguem (aqui serve como uma metáfora da culpa da traição) e que ocasionalmente o levam a cometer suicídio.
As cenas do sofrimento de Cristo e toda sua peregrinação com a cruz nas costas até chegar ao Calvário são o ponto alto do filme, porém, também é o que há de mais discutível. Ponto alto por que Gibson mostra cenas chocantes de violência que fazem filmes sangrentos por aí parecerem comédias. Ele filma tudo como se realmente aquilo de fato estivesse acontecendo no momento em que assistimos. São cenas fortes, de grande impacto, que causam a comoção de quem as vê. Agora vou dizer por que são discutíveis, fazendo algumas perguntas que o filme não responde: Por que Cristo sofreu tanto ali? Por que há tantas revoltas entre aquele povo? Por que os discípulos e pessoas que ali estão sofrem tanto com as dores de Jesus naquele momento, inclusive Maria Madalena? Às vezes temos a impressão que estamos assistindo a apenas uma parte final de um filme, como se a obra tivesse três partes por exemplo, e estivéssemos assistindo a última parte. Por isso, é discutível por que se perde muito tempo com cenas violentas (alguns dirão que são cenas necessárias, porém seria de maior importância mostrar por que Cristo sofreu tanto, o que levou a tudo isso, quais os motivos que o levaram a ser alvo do ódio daqueles judeus.
Alguns dizem que Pôncio Pilatos foi “humanizado” demais por ser romano, uma referência à igreja católica apostólica romana. Satanás é mostrado na figura de uma mulher que às vezes se metamorfoseia a uma cobra (o que Gibson pretendia mostrar com isso não se sabe). Porém, o que muitos também não sabem é que Gibson se baseou nos relatos da freira alemã Anne Catherine Emmerich (1774-1824), que segundo ela escreve em seu livro, teria tido algumas visões sobre os últimos momentos de Cristo a caminho da crucificação. Estudiosos apontam uma série de passagens no filme que não constam nas Escrituras. Mas como é de cinema (onde é comum se romancear os fatos) que estamos falando, não cabe aqui mencioná-los.
Mas uma coisa é certa: nos dias de hoje onde impera a falta de vontade de se conhecer melhor sobre Cristo, era de fortíssima importância que um filme desse porte mostrasse com mais ênfase e não em flashbacks a vida do maior homem da história da humanidade. Seus ensinamentos, sua vida purificada sem pecado, suas parábolas, seu real motivo de mostrar aos homens que o pecado só leva a um caminho: a morte eterna. Isso, a produção milionária de Mel Gibson não mostrou e deixa a impressão que é uma produção com propósitos maiores de emocionar e assim levar mais pessoas aos cinemas. Aliás conseguiu: Essa é uma das cem maiores bilheterias da história do cinema.
Mel Gibson foi acusado de ser anti-semita, e causaria uma forte onda de problemas ligados a isso que quase arruinaria sua carreira. Ele começou fazendo filmes na Austrália, ficando famoso com as séries cinematográficas Mad Max e Máquina Mortífera. Seu primeiro trabalho na direção foi em 1993 com O Homem sem Face. Ganhou os Oscar de filme e direção por Coração Valente, de 1995. Seu filme seguinte depois de A Paixão de Cristo é Apocalypto, em que uma tribo da civilização Maia de séculos atrás é invadida, muitos deles são massacrados e outros mantidos prisioneiros; um dos sobreviventes tenta a todo custo escapar pra tentar salvar a vida de sua esposa e filho. Esse filme tem duas características que Gibson utilizou em A Paixão de Cristo: A extrema violência e a língua original do povo retratado, enquanto em sua aventura dos povos Maias, ele usa a linguagem original, Em A Paixão de Cristo são usados as verdadeiras linguagens da época: aramaico, latim e hebraico. Portanto, nada de dublagens, nem mesmo no DVD.
Felizmente Gibson acerta na cena chave, justamente no final quando ele mostra a ressurreição, de forma bastante cuidadosa e emocionante.
Como cinema é um filme extremamente bem feito, com ótima reconstituição de época e atores cumprindo bem suas funções. O americano Jim (ou James) Caviezel interpreta o Messias, Maria Madalena é feita pela italiana Mônica Bellucci. O restante do elenco são de nomes pouco conhecido. Teve três indicações ao Oscar: melhor fotografia, melhor trilha sonora e melhor maquiagem.
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