Filmes em que um professor tem de encarar alunos que mais se parecem presidiários incuráveis, não é novidade, temos entre os mais famosos: Sementes de Violência, Ao Mestre, com Carinho, O Preço do Desafio, Meu Mestre Minha Vida e Mentes Perigosas. Todos eles (o primeiro é de 1955) apresentam os alunos como um sério problema social que precisa ser combatido a duras penas e em alguns casos, compreendidos. São filmes em que o professor tem um papel não só de tutor, mas de mãe, pai, policial, psicólogo e juiz. Mas nenhum desses filmes tem uma bagagem tão profunda quanto o belo filme francês Entre os Muros da Escola. Talvez por que nesse há o fato de ser menos maniqueísta, heróico e ser mais focado na subjetividade do ser humano como instrumento de mudança e esperança. Assim como aqui no Brasil, o ensino público na França passa por uma difícil crise: greves, falta de verbas, falta de qualidade, embate professor/alunos. E é esse último ponto o foco central de Entre os Muros da Escola. O professor François (interpretado por François Bégaudeau, autor do livro em que o filme se baseia, e fazendo a si mesmo) vê no dia-a-dia de seu trabalho, uma tarefa difícil quando tem que se esforçar ao máximo para que seus alunos (em sua grande maioria jovens desinteressados e rebeldes) aprendam alguma coisa. Mas a tarefa não é fácil. François dá o máximo de si, mas só recebe desafetos por parte de seus alunos. Ele também é orientador, e recebe pais de alunos que lhe contam progressos e regressos de seus filhos. Apesar da história se centrar em François, vemos também aos poucos o drama de seus colegas, os desabafos, intolerâncias, impaciência, esforço em tentar mudar a triste realidade de suas salas de aulas. Os professores são em grande parte animados e prontos pra mudarem a terrível situação do ensino público, mas é visível também o desgaste físico e emocional pelo qual eles passam.
François tem em especial um problema maior com dois alunos. Ambos o acabam tirando a paciência e o inevitável acontece: o professor mostra seus limites. Naquele momento o homem e não o professor François toma conta da situação e tudo parece ir por água abaixo. Isso parece ser uma mensagem para os professores: “Também somos seres humanos, não agüentamos tantas humilhações”.
O diretor Laurent Cantet filmou tudo com um realismo impressionante, poucas vezes visto em um filmo de temática social. Parece que realmente estamos vendo um professor dando aula pra seus alunos. Tudo é de uma veracidade incrível.
O filme não cai na armadilha de solucionar o problema e com isso não oferece uma saída tirada da cartola de um mágico. O problema do ensino público na França, onde os imigrantes já são uma grande porcentagem por lá, o problema social dessas pessoas são alarmantes. E o ensino público consequentemente não consegue ser diferente e vai de encontro com o fracasso da instituição educacional. Mas se por lá o problema é grave, aqui no Brasil parece ser muito pior, uma vez que se analisa que até em alguns colégios particulares, já não há tanta força no aprendizado, não por falta de interesse de professores, coordenadores, educadores e diretores, mas por falta de interesse dos próprios alunos.
Entre os Muros da Escola ganhou a Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes. Concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro ao lado dos ótimos Valsa com Bashir e A Partida. Perdeu para esse último.
Filme mais que recomendado para profissionais da área da educação, alunos e o público em geral que aprecia um ótimo filme que discute um assunto de interesse de todos.
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