O diretor Robert Wise era conhecido por filmes de suspense, aventura e ficção, mas nada faria crer que ele se superaria naquele que é considerado sua obra-prima: Amor, Sublime Amor, ou West Side Story como é mais conhecido.
Os musicais estavam saindo de moda, os grandes espetáculos de dança e músicas pareciam estar com os dias contados. Clássicos como Cantando na Chuva, Sete Noivas para Sete Irmãos, Sinfonia em Paris e Sapatinhos Vermelhos eram imbatíveis, e o gênero estava se desgastando, como demonstrou o irregular Gigi de 1958, que apesar de ganhar 9 Oscars, fica bem aquém dos melhores musicais de Hollywood. Eis que Wise se une ao consagrado coreógrafo Jerome Robbins para adaptarem o sucesso da Broadway que colocava a história shakesperiana de Romeu e Julieta em pleno anos 50. Wise era um diretor determinado, talentoso e sabia bem o que queria em cena, pra isso não mediu esforços e se empenhou ao máximo para que tudo se encaixasse perfeitamente. Conta a história de duas gangues: Os Sharks (Porto-riquenhos) e os Jets (Anglo-saxônicos) em luta diária pelos mais diversos motivos. O filme já começa em rivalidade entre eles, tudo mostrado em forma de dança. Aos poucos vamos conhecendo a cada um deles. Até que, num baile, ficamos mais próximos do casal Tony e Maria, que desencadeará todo o drama da obra (representados como os Capuletto e os Montechio da famosa peça de Shakespeare). A cena em que eles se vêem pela primeira vez é antológica e define bem o título “sublime” do título. Aliás, esse título é um pouco infeliz, e deixa a desejar. Dali nasce uma paixão que será o pivô de uma grande tragédia. Tony é o melhor de amigo de Riff, líder dos Jets, e Maria é irmã de Bernardo, líder dos Shark. Sua história de amor é marcada por preconceitos e pela disputa entre duas gangues rivais que se confontam cegamente pelas ruas de Nova Iorque, onde um policial tenta a todo momento detê-los. Mas o ódio entre eles é mais forte do que a compreensão de que há algo errado com aquelas brigas inúteis. O final é inesquecível e carrega uma carga dramática que transcende a própria arte cinematográfica, é de uma comoção fora de qualquer conceito crítico, algo formidável que preenche toda a tela do mais puro lirismo, entre uma trilha sonora melancólica que expressa toda a dor daquela cena. As danças são fortes, intensas, com um vigor impressionante, exalando fúria e emoção de acordo ao momento. Repare como eles extravasam suas raivas através da dança e das canções. Aquelas explosões de desabafos são colocadas pra fora em meio a dança na sua forma mais visceral. Quem tem o cuidado de assistir a um filme em forma de estudo da arte, vai perceber esses detalhes que tornam esse filme um dos mais fortes manifestos da dor e da paixão, que o cinema já mostrou. Os números musicais (que não são poucos) estão entre os mais belos de todos os tempos. Lembrando que, quem não gosta de filmes musicais deve passar bem longe desse aqui, ou irá se decepcionar bastante. Não é um filme popular, mas sim um espetáculo áudio visual belíssimo. Talvez o maior épico-musical, o mais rebelde exemplar de uma arte em movimento que jamais foi superado.
Os atores foram selecionados criteriosamente, à exceção de Richard Beymer (que faz o mocinho Tony). Wise anos depois diria que este não havia sido uma boa escolha. Beymer vinha do belo e dramático O Diário de Anne Frank (1959) e tinha jeito de galã. Em minha opinião ele não compromete em nada. Natalie Wood substituiu Audrey Hepburn que estava grávida. Natalie é encantadora, e sua Maria é frágil e ao mesmo tempo decidida. Russ Tamblyn que faz o líder dos Jets havia feito O Pequeno Polegar (1958). O casal de porto-riquenhos que dá maior credibilidade e carga enérgica e emocional ao filme, é feito por George Chakiris e Rita Moreno (ambos foram premiados aos Oscars de Coadjuvantes). O resto do elenco é perfeito. Todos sabem dançar e demonstram isso da melhor forma possível.
Mas Amor, Sublime Amor não seria esse espetáculo todo se faltasse um dos principais ingredientes: a trilha musical do excepcional maestro Leonard Bernstein. Suas músicas são nada menos que excelentes e dão um tom de alegria (em algumas partes do filme) e tristeza (perto do final). As canções Something's Coming, Maria, América, I Feel Pretty, One Hand, One Heart, Somewhere e principalmente Tonight são simplesmente inesquecíveis.
Vencedor de nada menos que dez Oscars: filme, direção, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, fotografia, montagem, direção de arte, figurino, som e trilha sonora, é sempre eleito como um dos maiores filmes da história, não só do gênero musical, mas em termo geral. E isso é mais que justo e compreensível, pois se trata de uma obra-prima indiscutível.
O diretor Wise voltaria ao gênero em 1965, com o também belo musical A Noviça Rebelde, onde sairia novamente premiado com o Oscar de direção. Aliás, A Noviça Rebelde fechou com chave de ouro o ciclo dos musicais clássicos da era de ouro de Hollywood. Mas não se compara a beleza e esplendor de Amor, Sublime Amor, um filme genial que é sinônimo de explosão de arte, paixão e criatividade como poucas vezes foi visto nas telas do cinema.
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