Esse provavelmente é o melhor filme de Peter Jackson, sua obra-prima. Superior até mesmo à sua trilogia O Senhor dos Anéis (2001 a 2003). Narra a verdadeira história de uma amizade que culminou em um dos crimes mais chocantes da Nova Zelândia.
O ano é 1953, na cidade de Christchurch duas adolescentes se tornam amigas em um colégio, e dali nasce uma amizade muito profunda. As jovens fechadas entre si, vão criando um laço de união, no que culmina em uma intensa devoção entre ambas a ponto de causar espanto e preocupação aos seus familiares. Juliet Hulme (Kate Winslet, em seu primeiro filme e três antes de se tornar famosa por Titanic) é uma adolescente de família de classe alta, angustiada pela turbulência da péssima união de seus pais, ela se senta insegura, oprimida por desejos trancados dentro de si, e com uma rebeldia incontrolável; ela então conhece sua nova colega de classe Pauline Parker, (Melanie Lynskey, a irmã de Drew Barrymore em Para Sempre Cinderela) uma jovem de família pobre, tímida, de poucos amigos. O que poderia ter sido uma história de uma grande amizade, se torna uma terrível obsessão, no qual as duas jovens renegam o mundo real em prol de um mundo imaginário onde há borboletas gigantes voando, bonecos ganham vida e até o cantor lírico Mario Lanza aparece como um deles. Suas imaginações tornam tudo muito surrealista, uma fuga da realidade, uma vez que essas duas adolescentes já não se importam mais com o mundo real. Essa amizade vai ganhando conotações homossexuais, fugindo do controle da razão e tornando-se algo fora dos padrões éticos em uma década onde o moralismo era objeto de honra para toda uma sociedade.
Pauline e Juilet juntas, mesmo com suas fraquezas, se mostram inteligentes, criativas, talentosas e determinadas.
E determinação é o que move suas vidas, o que não as deixa se separar uma da outra. Quando elas vêem sua amizade ameaçada, planejam algo macabro que resulta no crime que abalou o país. O final é um grito de desespero, amargura, revolta e separação
O diretor Peter Jackson vinha de filmes trash, baratos. Então, em 1994 decide filmar um roteiro seu feito juntamente com sua mulher Fran Walsh, sobre duas adolescentes que se tornam amigas e assassinas. Depois viria Os Espíritos em 1996, cinco anos antes dele fazer a trilogia O Senhor dos Anéis que seria um mega-sucesso e lhe renderia ótimas críticas. Em 2005 leva às telas a refilmagem de seu filme preferido: King Kong, um clássico em preto e branco de 1933 (Não aquele de 1976 com Jeff Bridges e Jéssica Lange). Em 2009, Jackson acerta como produtor num ótimo filme sobre alienígenas chamado Distrito 9, mas não agrada como diretor com Um Olhar no Paraíso, filme em que uma menina depois de assassinada narra as reações da família, amigos e do próprio assassino na terra. Esse filme é baseado no livro “Uma vida interrompida: Memórias de um Anjo Assassinado" (The Lovely Bones) escrito por Alice Sebold. Infelizmente é um filme que nem de longe se compara ao talentoso Almas Gêmeas. Falta-lhe a sagacidade, a emotividade e as metáforas que fazem de Almas gêmeas um filme inesquecível.
Jackson sabia que, ao fazer um filme que misturasse realidade com um mundo fantástico cheio de cenários irreais e elementos fantasiosos, precisaria de uma boa empresa de efeitos especiais, mas o orçamento para esse filme era pouco, então só lhe restava inventar seus próprios efeitos, então ele criou a Weta Digital. Pra se ter idéia da dimensão dessa empresa que surgiu como algo de fundo de quintal, a Weta não só fez os efeitos especiais dos filmes de Jackson já citados, como também de grandes sucessos como Eu, Robô, X-Men – O Confronto Final, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado e chegando ao maior de todos os efeitos já vistos nas telas: Avatar.
Todos os lugares do filme são os lugares reais onde aconteceram os fatos. As atrizes protagonistas estão excelentes. Kate que foi eleita a atriz do ano, ficou fora das indicações ao Oscar. O filme só foi indicado como melhor roteiro original, mas ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza e outros prêmios mundo afora.
Não confundir com outro filme de mesmo nome, feito em 2006, é só ficar atento com o ano de produção (1994) e o título original Heavenly Creatures (Criaturas Celestes).
Almas Gêmeas é singular, forte, contundente e genial. Se você gosta de cinema ou de uma ótima história e ainda não assistiu a esse filme, não sabe o que está perdendo.
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