Perfume - A História de um Assassino
Diga-se de passagem: Perfume - A História de um Assassino do Diretor Tom Tykwer é uma pequena jóia relativamente desconhecida, anti-convencional, com muito charme, bela fotografia, mas que, acima de tudo, firma-se devido ao grande talento demonstrado pela direção de Tykwer.
Um dos filmes mais caros já feitos na Alemanhã, com um orçamento de € 50 milhões (algo em torno de US$ 65 milhões), Perfume é inspirado no livro de mesmo nome, que obteve grande sucesso, tanto que o autor, Patrick Süskind relutou por vários anos em conceder os direitos autorais (o livro foi publicado em 1985, vendeu mais de 15 milhões mundo afora, sendo traduzido para mais de 45 idiomas, o autor só veio a comercializar seus direitos autorais em 2001)
Ambientado na suja Paris do século XVIII, o filme conta a história de Jean-Baptiste Grenouille (o inglês Ben Whishaw), desde seu difícil nascimento, sua ida para um orfanato, sua venda para um dono de curtume (e aí, um traço interessante e simbólico, que o eleva a um tom meio épico: sempre quando Grenouille saia da vida de uma pessoa, essa morria, com todos, desde seu difícil nascimento, quando ao verem que sua mãe teria queria o abandonar, as pessoas ao lado de sua barraca de peixes - sua mãe trabalhava em uma fétida feira - delatam a infeliz que é prontamente executada na forca).
Esses primeiros anos de Grenouille são habilmente contados, sem perder muito tempo, mas nos passando na medida exata o perfil de nosso protagonista, uma pessoa de poucas palavras, mas de um dom olfativo fora do comum.
Em seguida, Grenouille já adulto acaba por conseguir a admissão do perfumista falido "Mestre Giuseppe Baldini", interpretado por Dustin Hoffman. Certo dia, ao perambular pelas ruas de Paris, Grenouille encanta-se com o cheiro do corpo de uma moça, que acaba matando-a acidentalmente, todavia, a partir desse dia, Grenouille descobrirá seu verdadeiro sentido de viver: descobrir como preservar o cheiro da coisas.
Depois que seu mestre Baldini diz ser incapaz de ensinar-lhe a melhor técnica para tal empreitada, Grenouille segue os conselhos do mesmo e parte para a serena região de Grasse, a "Meca dos Perfumes" nas palavras do narrador da história, na voz de John Hurt.
Nesse outro instante, Grenouille na ânsia por descobrir esses segredos, e meio que em busca de um "perfume perfeito" em todas as notas e acordes, passa a usar uma técnica a para de extrair o perfume de corpos humanos, nesse instante, entra em cena o Grenouille serial-killer.
Após vários assassinatos, o grande temor se instaura na pequena Grasse, o toque de recolher para damas vira lei, cogita-se o auxílio de tropas da capital Paris. Diante desses acontecimentos, Antoine Richis (Alan Rickman) vê o perigo de que uma das próximas vítimas ser sua bela filha Laura (Rachel Hurd-Wood).
Dito isso, nas últimas cenas do filme, parece que a capacidade simbólica e embriagante de um raro perfume, tão indescritível quanto o perfume encontrado na tumba de um determinado faraó egípcio, como nos é contado no filme, nos leva a cenas com nenhuma resposta definitivas. O perfume que antes era a motivação para ardilosas ações de tão frio e calculista serial-killer como o era Grenouille, tornar-se-á motivação para as mais mirabolantes sensções de libido, ao mesmo tempo em que gera o perdão das pessoas pelas mais truculentas das ações. Nesse instante, o fibnal extremamente surpreendente faz do vilão um herói, saldado por todos, aquele que leva o amor para as pessoas, que sensibiliza os meio de defesa repressoras que não permitiam um mínimo julgamento se quer.
Pontuando tão ardiloso tema, afinal, haveria uma situação histórica à seguir, uma certa fidelidade ao livro do qual o filme se baseia. Para isso, é extremamente gratificante o trabalho da direção de Tom Tykwer ( Corra Lola Corra e Paraíso). Sua direção imbui na medida exata a contrução de seu protagonista, principalmente dele. Tanto é, que falha em caricaturar demais seus personagens secundários (a impressão que fica é que atores como Alan Rickman e Dustin Hoffman servem apenas para dar mais notoriedade ao filme apenas por sua presença).
Negativamente fica o Roteiro escrito pelo própio Tykwer, em parceria com Andrew Birkin (roteirista de O Nome da Rosa, e que contribuiu para o tom mais próximo dos diálogos da obra literária, fato que vemos presentes tanto em Perfume quanto em O Nome da Rosa), além de Bernd Eichinger (A Queda: As Últimas Horas de Hitler), tal roteiro escorrega no sentido que prevalece um estilo de narração intrinsecamente literário que por vezes acaba travando à narrativa.
Todavia, tecnicamente o filme é primoroso, destaque para a Fotografia de Frank Griebe (Paris, Eeu Te Amo, e Corra Lola, Corra) seja quando o enfoque é a podridão das ruas pober de Paris, seja na bucólica Grasse, na segunda parte do longa.
A Edição de Alexander Berner (que lhe valeu um German Film Award de Melhor Montagem) também não fica por menos. Seja no início com cortes rápidos, ou na cena em que vemos as coisas que o bebê Grenouille consegue cheirar com seu senso de olfato fora do comum. Um estilo meio videoclipe que serve pra passar a medida do poder do olfato de Grenouille.
A Trilha Sonora composta pelo própio Diretor Tykwer em parceria com mais dois músicos é espetacular, sensível em todos os pontos, além de muito bem colocada. Outro destaque fica pelas ótimas locações, além do pontual figurino sob a assinatura de Pierre-Yves Gayraud, fato que serve pra elevar mais ainda a qualidade da ambientação do filme.
Em suas atuações, vemos um protagonista bem interpretado pelo inglês Ben Whishaw ( Não Estou Lá), suas expressões faciais na medida, sua dinâmica em levar o personagem diante de tantas modificações ao longo da trama, a maneira como ele expressa a psicopatologia/talento de seu personagem o faz o grande destaque do filme, sem dúvidas. Os outros atores têm em seus papéis certos secundarismos excessivo, não se constrói em quanto si própios, servem apenas para delinear as vivências de Grenouille, são personagens fracos, pessoas que se vêem domadas diante do poder que tem Grenouille.
Enfim, Perfume é um dos primeiros filmes a mexer com um dos sentidos que não estão diretamente ligados ao ambiente cinematográfico, vindo de um livro quase que impublicável, o filme revela-se como ótima surpresa, nos revelando que pode-se sim, com talento, passar uma idéia de determinado sentido enfocando outro, com o uso da boa técnica de outro, nesse emaranhado de misturas, Perfume - A História de Um Assassino nos leva em uma viajem sentimental e impactante.
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