Cassavetes é conhecido como o pai do cinema independente estadunidense. Autor de sutileza ímpar, que conseguiu enorme respeito também como ator em filmes do porte de “O Bebê de Rosemary” e “Os Doze Condenados”. Morrera aos 59 anos, vítima de sirrose epática.
Já no seu primeiro filme, o quase artesanal “Sombras”, Cassavetes mostrara-se um cineasta preocupado no trato humano, através da valorização do aspecto improvisação de seus atores, o que, sem dúvidas, conferiu ao filme um grau de impacto ainda maior, mas que isso, o fato de que protagonizado de uma forma madura por negros e mestiços, fez com que a crítica recebesse bem o filme, sobretudo na Europa. O diretor era diferente de tudo que havia nos EUA. Filmava de uma forma arrojada, com personagens-pessoas fora do círculo social mais favorecido, trabalhava suas angústias, seus amores de uma forma respeitosa, sem conceder um pré-jugamento das mesmas, mas sim, jogando o espectador pra dentro daquela realidade, através de seus movimentos de câmera, que variam de super-closes a planos longos de uma forma elegante, seus planos-sequência mais parecem serem diferentes posições de uma mesma sequência, é algo brilhante.
Em “Morte de Um Bookmaker Chinês”, Cassavetes nos faz acompanhar um personagem que vê o jogo virar da noite pro dia e que terá de matar um mafioso chinês para livrar-se de parte de uma dívida. Essa pessoa é Cosmo Vitelli (Gazzara, que fora um dos idealizadores do filme), dono de uma boate de striptease. Em meio a confrontos pessoais de Cosmo, Cassavetes nos joga dentro de seu mundo, sem julgar atitudes de seus personagens. Não há pessoas boas ou más em seu filme, há gente real tentando viver à sua maneira, buscando fazer aquilo que é essencial a sua vida. Ao final, Cassavetes resume não apenas aquele ambiente boêmio, mas de toda uma geração de jovens, com uma sequência absurdamente genial, um anti-climax que espelha claramente o quão perdido, afinal, era seu personagem em meio aquela fauna humana.
O filme mostra um personagem em situação-limite, talvez como o próprio Cassavetes, que o viu como uma metáfora sobre a própria luta para tentar fazer filmes pessoais e não comerciais e para todos aqueles que tentam destruir ou impedir os sonhos alheios, isso após a realização de dois grandes filmes: “Faces” e “Uma Mulher Sob Influência”, nesse sentido, “Morte de um Bookmaker Chinês” ganha ainda mais respaldo e sinceridade.
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