Uma salada de gêneros orquestrados por um diretor corajoso, que como ele mesmo aponta: "Kill Bill serve pra mostrar o quanto eu sou bom, serviu pra elevar ao máximo meu sentido enquanto diretor". Ao seu gosto, Tarantino cria seu própio universo, utilizando referências a filmes que marcaram sua formação enquanto diretor. Kill Bill acaba usando a "Violência real", sem exageros, em se tratando das referências a que se propõe dialogar. E mais, Tarantino mostra ser um diretor de talento não só em desenvolver sua mitologia, mais de compor toda uma particularidade de técnicas pra essa sua mitologia, sendo seu grande mérito não se perder nesse universo, ao contrário, Tarantino, como uma espécie de divino sob seu panteão mitológico ordena toda a situação com habilidade sobre-humana.
Kill Bill é uma história simples: uma mulher conhecida por "A Noiva" (Umma Thruman) tem futuro marido e amigos brutalmente assassinados no ensaio de seu casamento, ela mesma, fica em coma por longos quatro anos. Acordando, decide se vingar daquele que planejou tudo: Bill (David Carradine). Só que aí, pego uma fala de O-Ren Ishii (Lucy Liu): “Você não achou que ia ser tão fácil não é?". Diante disso, Tarantino vai jogando referências/influências como do filme japonês de 1973 "Lady Snowblood" no qual uma mulher mata a gangue que assassinou sua família; A Noiva Estava de Preto (1968), de François Truffaut; western spaghetti; blaxploitation; filmes de kung fu dos anos 60 e 70; o traje amarelo de Uma Thurman é uma réplica do usado por Bruce Lee, em Brucee Lee no Jogo da Morte; Jornada nas Estrelas, no provérbio: "A vingança é um prato que se come frio", que foi retirado do segundo filme A Ira De Khan (1982); filmes trash, vide a abundância de sangue jorrado (450 galões de sangue falso nos dois filmes) a até aqueles que dizem que a referências a Matrix, Tom & Jerry, Loucademia de Polícia, mas eu acho que são apenas semelhanças, não algo intencional.
O Roteiro foi desenvolvido por ele, Tarantino, e Umma, durante as gravações de Pulp Fiction.
Nessa primeira parte, já que a idéia era que o filme tivesse 4 horas de duração (Tarantino e a Miramax resolveram dividilo em dois - o grande erro do filme) temos bons momentos, boas lutas além de que o roteiro nos encaminha habilmente a esse universo tarantinesco. Passamos a nos contagiar com a história, desejamos a vingança da Noiva.
Nesse sentido, na primeira parte reveza boas atuações de alguns atores, com deslizes de outros. Enquanto Umma Thurmam segura a barra em todos os capítulos, nessa primeira parte temos como destaque negativo a presença de Lucy Liu (Chicago e As Panteras), apática como sempre a nova-iorquina reafirma sua incapacitação em demonstrar um pingo de noção de gestualização pra seu papel. Há também Julie Deyfrus, como membro da gangue de O-Ren Ishii, que serve apenas para compor um papel superficial e até desnecessário, como a sino-italiana Sofie Fatale. Por outro lado, nesse volume 1 o destaque fica por conta de Vivica A. Fox, como Vernita Green, personagem envolvida no massacre do casamento, e que protagonizará uma sangrenta luta com a noiva logo nas primeiras cenas.
No Vol. I, a parte técnica é exigida ao extremo, vemos os ângulos de que Tarantino simpatiza, além de belas tomadas por cima dos personagens; a Edição de Sally Menke (Editor dos filmes de Tarantino, Indicado ao Oscar por Pulp Fiction) é espetacular, precisos cortes nas cenas de luta trazem um ritmo mais frenético a elas. A Fotografia de Robert Richardson (indicado por Platoon, Nascido em 4 de Julho, Neve Sobre os Cedros e vencedor por JFK - A Pergunta que Não Quer Calar e O Aviador) abusa de cores fortes, sendo cheia de brilho na cena de luta em um quintal de casa japonesa.
Trilha sonora fantástica, eclética, utilizando de vários estilos em cenas imprevisíveis, fato que poucos teriam tanta coragem como Tarantino (o impacto de distorção e efeito é semelhante à Kubrick jogar música clássica para os confins do universo).
Enfim, a Mitologia (digo isso por mera referência ao que Tarantino sempre menciona, como sua Mitologia) tarantinesca pode parecer lixo cultural pra uns, você pode realmente não gostar do western spaghety ou não se empolgar com os filmes trash, ou com a pancadaria dos filmes de Kung Fu, mas com Tarantino, essas referências ganham um novo sentido, ousado. Se essas referências são “artes de baixa qualidade” não sei, mas o resultado de Tarantino é bem próximo de uma grande realização artística. Kill Bill teve um orçamento de US$ 55 milhões, os dois filmes, vacilam em certas partes da história que se tornam desinteressantes, isso fica bem presente na segunda parte, mais o brilho do roteiro de Tarantino, aliado à precisão técnica jamais igualada em seus outros filmes faz de Kill Bill - Volume 1 um bom começo.
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