A forma como trabalha com a construção de identidades, além da variação/junção de estilos alça esse Face de Um Outro ao patamar de obra-prima da nouvelle vague nipônica, e um dos grandes filmes da história, sem dúvida alguma.
Espécie de alegoria existencialista, o filme é mais uma parceria entre Teshigahara e o escritor/roterista Kobô Abe, onde vemos a história de um homem que teve o rosto deformado por queimaduras. Paralelamente, é narrada a história de uma jovem, com rosto também deformado, que sai em viagem com seu irmão.
Teshigahara parece partir da idéia de que aquela situação ocasionou no nosso anti-herói Sr. Okuyama uma espécie de “complexo de inferioridade”, sendo assim, o fato de estar com o rosto desfigurado tornou-se para Okuyama um não-viver. O relacionamento com sua mulher mudara. Sua personalidade mudara. Ai, surge o grande interesse do filme, nos minutos iniciais: a questão da (s) máscara (s) na construção dessa identidade. Sendo assim, a existência do personagem só teria condição conquanto esse possuísse rosto – e é interessante lembrar a cena em que a jovem da história paralela é assediada por rapazes, ao que estes retrocedem quando vêem que a menina tinha parte do rosto coberto por feridas, havendo, portanto, a criação por parte do outro de uma nova identidade para a moça, identidade calcada na repulsa, no não-belo.
O segundo momento se dá quando o personagem principal é convencido por um médico psiquiatra a usar uma máscara de borracha. Partindo daí, o doutor na magistral cena da cervejaria alemã, vai o questionar sobre como aquele processo vinha acontecendo. Perguntando se a máscara seria capaz de criar uma nova identidade nele. Se ele não estaria sendo escravo dessa sua nova condição. Como estava lidando com sua nova condição de liberdade (das faixas que cobriam as queimaduras de seu rosto, que o privavam da vida, conforme ele dizia).
Após o final divino, onde confronto entre o homem e o médico (ou entre Frankstein e seu criador?) levanta-se mais uma vez a questão sobre a possibilidade de ver a existência enquanto identidade, e o conflito de acordar e entender a sua importância – e, por isso angústia, o que teria levado ao assassínio daquele que dera-lhe a máscara. Enfim, a existência humana como uma eterna, sofrível e incessante busca por identidade
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