Bang Bang é uma espécie de embuste tupiniquin que busca influências no estilo Godardiano de filmar – os travelings -;com uma precisão cirurgica dos enquadramentos passiveis de qualquer filme de Fuller; com uma cena claramente referencial a Hatari!; além do estilo zombeteiro definido em filmes de Sganzerla, amigo de Tonacci. Tudo isso, compõe o pano de fundo meramente estético pra esse experimento descontínuo que ao final, com o deboche em forma de gargalhada que encerra o filme, mostra o que desde o início se delineava: que tudo aquilo era um mero jogo de cinema, onde o roteiro era o de menos.
A história acompanha possivelmente a perseguição de uma gangue ultra-bizarra ao protagonista da trama. Mas, isso, como já dito, não importa. Não importa mesmo. Importa vê como o cinema em si é estudado em Bang Bang, como aquilo produzido em termos de filme brasileiro é absurdamente desprezado e satirizado de forma alegórica em Bang Bang.
Há algo em Bang Bang presente em filmes diversos, como Eles Vivem, de Carpenter, Rio Bravo, de Hawks, e em vários Godards. Trata-se de um interesante recurso narrativo, onde uma elipse – em Eles Vivem, uma pancadaria dantesca entre o brutamontes protagonista e seu “colega”; Rio Bravo, a linda canção que antecede o confronto final; em Pierot, Le Fou, há diversas canções entoadas por Anna Karina – serve ou como âncora para um próximo evento, ou como apenas exercício de cinema, puro e simples, mesmo que, não tenha, digamos uma necessidade no contexto geral do filme. Tais momentos, desde que bem inspirados podem abrilhantar o filme de maneira única. Em Bang Bang, o recurso torna-se demasiado, e por vezes pretencioso. Talvez a sensação desejada tenha sido essa, já que o impacto do filme se dá, sobretudo, na forma como ele consegue incomodar padrões clássicos do cinema. Dessa feita, os “tempos mortos” do filme se sustentam na argumentação descerebrada que desde o início se expôs. Pra citar os mais interessantes, há as cenas de brigas no taxi, além das danças no alto do prédio, já no meio do filme. A primeira, introduz a trama, a outra, é uma espécie de âncora pro defecho da obra.
No filme, o interessante é ver como Tonacci é inteligente com a câmera, como ele concegue tirar os melhores ângulos de seus cenários. Seja na forma categórica de filmar uma perseguição, valorizando ao máximo a arquitetura de Belo Horizonte – onde o filme foi rodado; seja nos travelings da cena do bar – uma dupla referência a Godard, que sempre gostava de cenas passadas nesses lugares -; seja na forma como ele abre o plano – algo que lembra muito qualquer cena de Kane. Tonacci é um diretor de talento. Tudo em Bang Bang é preciso, dentro da piração completa que é o filme.
Ainda que o roteiro lembre o estilo de um Acossado, por exemplo, Bang Bang ainda consegue ser autoral e, sobretudo, nacional. Mesmo que no pastiche e na direção de suas inúmeras alegorias. É direcionado sobretudo ao cinema brasileiro daquela época. Um libelo a favor da criação e do criador.
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