Se os excessos gráficos de Peter Jackson rimavam com os seus filmes trash de início de carreira e, em certa medida, com as produções de “temática” e dimensão maiores em que revolveu se envolver após dirigir Almas Gêmeas (seu primeiro trabalho mais sério), em Um Olhar do Paraíso eles soam completamente desarticulados, fora de tom; primeiro pela falta de harmonia entre a história que se propõe sensível e o visual demasiadamente exagerado; e segundo pela própria falta de imaginação no que diz respeito à concepção estética.
Desacreditado do material “simples” que tinha em mãos (comparado ao universo ostentoso da Trilogia do Anel e de sua nova visão para o clássico King Kong), Jackson optou por, ao invés de trabalhar com possíveis potencialidades dramáticas, usar um visual carregado para sustentar uma trama cuja força dramática, desde o início, não parece inspirar muita confiança no diretor. Para contar a história da menina que é assassinada e observa a vida de todos os envolvidos (pais, amigos, algoz) de um plano superior, ao passo que tenta se desapegar e encontrar um norte em seu pós-vida, Jackson, aproveitando do cunho esotérico, se esbalda no CGI, buscando conferir ares de grandiloquentes, pesando a mão em um filme que necessitava somente de sobriedade.
Difícil negar que Jackson era perito no que diz respeito à produção artística de seus filmes, particularmente ainda mais naqueles de orçamentos mais magros, de início de carreira, onde ficava mais clara sua criatividade na elaboração técnica. Aqui, talvez ainda não recuperado dos sintomas de grandiosidade de seus últimos filmes, ele pesa na concepção dos cenários (piorados por uma fotografia sempre iluminada em excesso), que jamais conseguem estabelecer diálogo com a própria natureza da história, sua ambientação, etc. De paisagens celestiais a visões bucólicas, os cenários são tomados por uma confecção gráfica incrivelmente fake, e, pior, por uma falta de imaginação absurda (que reduz todas as cenas no plano extraterreno a uma sequência digna das proteções de tela do Windows).
Mas o que mais complica para que o filme de Jackson chegue até nós é a escassez dramática com a qual tudo é trabalhado, desenvolvido. O texto parece se alongar mais do que o necessário, e, ainda sim, não conseguir dar um bom tratamento nem à trama tampouco aos personagens, que são interpretados, geralmente, como caricaturas grosseiras. Mesmo o elenco estando quase que homogeneamente ruim (salvo um ou outro bom momento de Saoirse Ronan), não se poderia esperar muito dos atores dentro de uma estrutura tão instável, caótica e principalmente equivocada (é tão fora do tom que, em certo ponto, passa a transitar do drama ao humor involuntário) quanto a desse filme, que, além de não dar conta de conferir qualquer peso dramático à trama, não consegue entregar nem ao menos uma boa experiência visual – o mínimo do que se poderia esperar de um diretor que já foi reconhecido, principalmente, pelo apuro estético.
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