Sobre Meninos e Lobos trata de amizade, pedofilia, assassinato, e principalmente, das ações do tempo
Com uma carreira extensa e competente, não se tem dúvidas que Clint Eastwood é dos melhores. Mesmo tendo feito obras memoráveis na década de noventa como Os Imperdoáveis e As Pontes de Madison, outra questão que não se pode ter dúvida é que o ponto alto de sua carreira aconteceu nos anos 2000. Antes de fazer obras no mínimo ótimas como Gran Torino, Cartas de Iwo Jima e o vencedor do Oscar, Menina de Ouro, ele deu um show de direção em Sobre Meninos e Lobos.
A trama gira em torno de três personagens. Jimmy Markum, Dave Boyle e Sean Devine, são três amigos que estão brincando na rua quando um suposto detetive chega aos garotos e leva um deles. Fica constatado então que Dave havia sido sequestrado, e por quatro dias vinha sendo estuprado por seu algoz. Após o trauma os três se separam, crescem e tomam rumos totalmente diferentes em suas vidas. Mas ainda morando no mesmo bairro, outra tragédia os uni novamente. Baseado no romance de Dennis Lehane.
Partindo dessa premissa, temos Jimmy Markum (Sean Penn), talvez o mais complexo dos três personagens, que leva a vida do seu jeito um tanto liberal, fazendo alguns trabalhos ilícitos, e tem total apoio de sua esposa (interpretada por Laura Linney). A frieza e anarquia de Jimmy dão lugar a um homem sensível e vulnerável, que se vê diante de uma situação sufocadora ao perder a filha. Por outro lado temos Dave Boyle (Tim Robbins), que é o pedestal de todos os conflitos da trama, até mesmo quando é envolvido indiretamente no caso da filha de Jimmy. O trauma da infância de Dave reflete em toda sua vida, o que o torna um homem inseguro, infeliz, sem pretensões ou realizações, e que tem todas as suas apostas de sua vida centradas em seu filho. Sean Devine (Kevin Bacon) completa o tripé da trama, personagem estereotipado, mas também, o menos realizado ou mais frustrado na vida emocional, com as incertezas que envolvem seu relacionamento, e agora em um dilema por entrar em um caso um tanto particular.
O roteiro é super bem amarrado, e carrega com sigo as doses certas de cada elemento inserido na trama. As investigações são muito bem conduzidas, sendo que cada reviravolta é apresentada na hora certa. O suspense também está presente, principalmente nas partes em que envolve o personagem de Tim Robbins e suas várias maneiras de machucar a mão e consequentemente apresentar ou não um álibi para a noite do assassinato. E por fim, a dramaticidade impregnada na trama é o que mais funciona, um momento chave disso é quando Jimmy descobre que sua filha foi assassinada, quando é seguro por vários policiais, a forma com que foi retratada essa cena é irreprochável.
O diretor acerta em todos os momentos e principalmente nos detalhes, como o nome dos três personagens escrito sobre o cimento, com o de Dave pela metade, mostrando assim um personagem incompleto que se tornaria, deixando parte de si no passado, ali no momento em que escrevia e, que foi levado pelos homens. Outro ponto forte que o diretor conseguiu foi não inserir lados certos na historia, apenas retratou como ser humanos, apenas isso, se sairiam diante de tais situações.
Sean Penn (O Pagamento Final) está inteiramente entregue ao papel, e faz uma das melhores interpretações de sua carreira, principalmente nas cenas em que exigem uma dramaticidade maior, está impecável. Tim Robbins (Um Sonho de Liberdade) tem mais um flash de brilhantismo, impulsionado talvez pelo grande talento de todo o elenco e pela direção impecável de Clint Eastwood, atuação que comina com um Oscar de Ator Coadjuvante, e claro que com seu talento, que tem de sobra. Márcia Gay Harden (Pollock), Kevin Bacon (O Homem Sem Sombra), Laurence Fishburne (Matrix) e Laura Linney (O Show de Truman) completam o elenco de personagens centrais com atuações condizentes.
Clint Eastwood dirige com maestria, o que acarreta em uma obra compassiva e sem constrangimentos, mesmo ao tratar de um tema relativamente difícil de lidar, a pedofilia. Outro fator valido é as cenas finais, pode soar como um excesso, desnecessário, mas serviu para conhecermos ainda mais a personagem da Laura Linney, talvez mais ali do que em todo o filme, na cena em que ela conversa com Jimmy Markum, e conclui-se que se por trás de todo bom homem há uma boa mulher, nesse caso, por trás da figura anarquista de Jimmy Markum há uma esposa que sustenta essa filosofia de vida.
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