Gangues de Nova York mostra como o ser humano não deve resolver seus conflitos, impasses, ou qualquer tipo de indiferença
Quando lançado, Gangues de Nova York foi apontado como uma forma para Martin Scorsese levar seu tão merecido Oscar, o que só viria acontecer quatro anos depois com Os Infiltrados. Se foi ou se não foi, não funcionou, ele até foi indicado, mas aquele ano era de Roman Polanski. Deixando esse fato de lado, e analisando friamente Gangues de Nova York, podemos chegar à conclusão que...
A trama acontece na Nova York do século XIX, onde as gangues eram quem se sobre-saiam na cidade. Duas dessas travam uma batalha pelo controle definitivo das cinco pontas, Os Nativistas liderados pelo Bill, O Açougueiro, e Os Coelhos Mortos, do padre Vallon. Uma sangrenta e árdua batalha comina com a morte do padre, na frente de filho Amsterdam, que 16 anos após o ocorrido retorna a Nova York em busca de vingança.
Amsterdam, um papel estereotipado, que tem o pai morto e busca vingança, é a figura central do filme, e por mais que não haja nada de novo, de certo modo ele funciona, com alguns atrativos, um personagem frio e que consegue chegar ao espectador. Bill, O Açougueiro é o algoz do protagonista, um personagem muito mais louvável e completo, após vencer a batalha contra o padre Vallon, ele toma o controle total da cidade, seja cobrando impostos, coagindo a todos ou impondo seu feitio sádico. Jenny Everdeane talvez seja a personagem menos relevante, e até supérflua. Ela serve apenas como uma peça para o romance que acontece paralelamente aos acontecimentos importantes da trama. Se apagarmos todas as cenas em que Jenny esteja em ação, a história se desenrolará normalmente e nos transmitirá exatamente o que transmitiu.
A não ser o romance impregnado no roteiro que é totalmente desnecessário, todo o resto funciona bem. Alguns fatos históricos dos Estados Unidos são usados como pano de fundo ao episódio Amsterdam, como referências à guerra-civil americana, à política da época, a aversão aos estrangeiros e a abolição da escravatura. E com isso, pode-se concluir que a ignorância e a crueldade do homem talvez sejam tão antigas quanto ele, e mesmo não havendo armas nucleares, a humanidade dava seu jeitinho para se destruir. Quase sempre provenientes de questões como religião ou disputa por territórios, as guerras e batalhas eram usadas, e são até hoje, como meios alternativos para se resolver impasses e conflitos.
A direção de Martin Scorsese, por mais que haja alguns excessos, está segura e coerente, o ponto quase que fraco está mesmo no roteiro, mas a direção foi certa, com o diretor certo. A parte técnica se sai bem melhor, fotografia e direção de arte, passando pelo figurino e pela montagem, fechando com The Hands That Built America, do U2, tudo impecável.
Em relação às atuações, sem sombra de duvidas que Daniel Day-Lewis apresentou a melhor interpretação, na pele de Bill, O Açougueiro ele rouba a cena quase toda vez em que aparece e, é o único que causa certo fascínio, quase tão brilhante quanto posteriormente no filme Sangue Negro. Leonardo DiCaprio como protagonista faz um bom trabalho e é um exemplo de ator que com o tempo só melhora, como se pode ver em O Aviador ou Os Infiltrados. Cameron Diaz como já citado em um papel irrelevante, não o faz com um trabalho diferente de outros filmes como As Panteras ou Quem Vai Ficar com Mary?, sempre morna. No elenco de peso, temos ainda os coadjuvantes de luxo, Brendan Gleeson que posteriormente viria a fazer ótimos trabalhos em A Vila e Na Mira do Chefe, Jim Broadbent de Topsy-Turvy - O Espetáculo, John C. Reilly o mesmo de Chicago e Magnólia, e Henry Thomas que se não estivesse em um papel relevante para a trama passaria despercebido.
Com algumas exceções no roteiro, valeu pelas menções a uma época americana desconhecida, pela atuações excelentes e pela direção de Martin Scorsese.
...Gangues de nova York é o retrato inexorável de que o homem não tem capacidade de resolver seus atritos e indiferenças a não ser na base da selvageria.
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