Babel fecha a trilogia visceral de Gonzáles Iñárritu muito bem
Se formos fazer uma busca pelo significado literal da palavra babel, além de referências a antiga Babilônia, é possível concluir que seja sinônimo de confusão, desordem, porém, em relação ao filme, o roteiro é falho nesse sentido, pois em certo ponto, ele muito bem discorrido ao que se propõe que é a relação entre pais e filhos, mais a desordem propriamente dita não é notada em parte nenhuma, e talvez a confusão tenha sido feita mesmo na escolha do titulo. Babel faz parte de uma trilogia visceral sobre conseqüências, de autoria do diretor mexicano Alejandro Gonzáles Iñárritu, e é isso que vemos no filme em questão, as conseqüências da negligente relação pais e filhos.
No Japão uma surda-muda ao mesmo tempo em que encara a descoberta da sexualidade, tem que lidar com a rejeição dos garotos em relação a sua deficiência, e ainda conviver com uma tímida afinidade com seu pai, um empresário que em seu tempo livre se dedica as caças, e em uma dessas ocorrida no Marrocos deixou de presente um rifle para aquele que foi seu guia turístico. No Marrocos, esse tal rifle acaba por parar nas mãos inconseqüentes de um pai que o dá a seus filhos para que eles espantem chacais que possivelmente atormentaria um rebanho de ovelhas, porém a imprudência do pai gera a irresponsabilidade dos filhos, quando um deles acerta um tiro em ônibus de turistas. Uma americana é alvejada, ela que por sua vez estava no Marrocos com seu marido para uma tentativa de salvar seu casamento, estabilizado por uma perda de um filho, porém, eles ainda tinham dois outros filhos que ficaram na America aos cuidados de uma mexicana, ilegal nos Estados Unidos e com medo de perder o casamento do próprio filho, viaja até o México com as duas crianças em uma ação totalmente inócua.
Essas quatros linhas narrativas se interconectam a partir de apenas um tiro, onde claramente o diretor optou por focar a atenção aos conflitos interpessoais entre pais e filhos e em alguns momentos ao fator terrorismo. Exemplo deste alerta meticuloso e por vezes preconceito por parte dos americanos está tanto na estória protagonizada pela babá no intervalo entre o México e os EUA, quanto no incidente dos garotos no Marrocos. Em um caso, ao tentar voltar para a América, a mexicana Amélia se depara com um policial que tenta a todo o momento criar uma situação que incrimine os personagens interpretados por Gael Garcia Bernal e Adriana Barraza, chegando ao ponto de mostrar ao fundo um retrato de George W. Bush, mostrando assim o cuidado inescrupuloso que eles ficaram adeptos após 11 de setembro, no caso Marrocos, por um descuido, ou imprudência, os garotos acabam por balear uma americana, e logo em uma analise superficial, a situação recebe o rotulo de terrorismo pelo lado americano. Esses fatores nos remetem a questão, até aonde é plausível um cuidado maior em relação ao terrorismo, qualquer artifício é válido ao lidar com esse assunto, inclusive discriminar por simples aparência? Babel mostra sua visão em relação a tal questão.
Muito se ouviu negativamente em ralação ao contorno japonês, chegando a ser tachado de um simples adereço publicitário, mas se o roteiro for visto pela perspectiva da negligencia dos pais, um tiro para interligar as estórias até que é bem calhado e ponderado. E um dos momentos mais comoventes do filme se passa justamente no núcleo japonês, onde Chieko vai a uma balada e o diretor nos coloca na pele da japonesa, extraindo totalmente o som, e mesmo sem nenhuma fagulha de barulho a passagem é extremamente sufocante.
Os cortes sempre bem apropriados, e a trilha sonora premiada no Oscar chamam a atenção, mas o elenco competente é o que a de melhor no contexto de Babel. Brad Pitt (Clube da Luta, Seven) e Cate Blanchett (O Curioso Caso de Benajmin Button, O A viador) que fazem o casal de turistas no Marrocos, e Gael Garcia Bernal (Diários de Motocicleta, Amores Brutos) que interpreta Santiago, compõem o trio de estrelas do elenco, e fazem jus ao rótulo, estão muito bem nas cenas, mas há ainda agradáveis surpresas, como Adriana Barraza e Rinko Kihcuki, a babá Amélia e a surda-muda Chieko respectivamente, roubam os olhares, inclusive conquistando ambas indicações a Coadjuvantes no Oscar.
Com certeza a fita não agradará a gregos e troianos, muito menos a mulçumanos, mas é imprescindível que todos confiram a essa obra, que tem muito de sincero, embora forçado em alguns momentos, funciona muito bem se deixado a desordem de lado – o significado de Babel – e focando-se na relação realista e moderna entre pais e filhos.
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