Obra-prima tão transcendente quanto divisiva, ao cutucar o pecado original do mundo moderno. Um filme tecnica e narrativamente perfeito.
Em determinado momento de Parasita, novo filme do cultuado diretor sul-coreano Bong Joon-ho, um personagem fala como sua patroa é uma pessoa ''tão legal e inocente'' e que às vezes sente até pena dela, sendo imediatamente retrucado pela sua esposa com um seco ''Claro que ela é legal e inocente, ela PODE ser legal e inocente, ela é rica!''...Só essa breve descrição de uma cena do filme já te dá uma ideia do tom e dos temas que esta Obra-prima aborda. Há quem o veja com uma mentalidade superficial e contaminada pelo cinema deste hemisfério, vão dizer que é apenas mais um daqueles filmes de ''ricoXpobre'', uma estória clichê sobre desigualdades sociais. Aí é que se enganam, porque Parasita fala de coisas muito mais profundas do que se pode imaginar observando de forma apressada. Na primeira assistida, muita gente não vai conseguir sair da premissa básica, vai ficar sem captar todas as mensagens e comentários sociais que o brilhante roteiro de Joon-ho transmite, esta é uma daquelas obras complexas cheias de entrelinhas e sub textos que precisam de uma atenção especial para que seja absolvida por inteiro. Então definitivamente seria recomentado pelo menos duas assistidas, para que o impacto seja realmente atingido. Um urgente, detalhado, e sagaz olhar sobre temas atemporais, Parasita apresenta um realizador talentoso em pleno controle de seu projeto. Com situações altamente identificáveis em uma narrativa profunda rica em significados que nunca perde o fio da meada, você vai começar este filme pensando que se trata tão somente de uma sátira social com toques de drama sobre uma família de larápios rasteiros dando o golpe do baú, e terminá-lo com muitas coisas para pensar da sociedade de hoje, sua falta de empatia e compaixão, os papéis que as circunstâncias nos obrigam a desempenhar, e, principalmente, o preço que se paga ao buscar ascensão social a qualquer custo. É um filme que se mantém fiel à si mesmo até quando deixa de ser plausível, com ficcionalização e exacerbação extrema de situações corriqueiras, entrando de vez no terreno da sátira social. Praticamente uma comédia escrachada na primeira metade, é incrível a forma como o filme se ressignifica como suspense ao fim, com direito a uma sequência apoteótica sangrenta perto do final. Tecnicamente, o apuro não poderia ser melhor, com um trabalho de edição e design de produção tão bom quanto ou até melhor que muitas produções hollywoodianas, sendo a sonorização particularmente notável. O elenco é perfeito, todos os atores com personagens de destaque, sem exceção, estão fantásticos, com Kang-ho Song na dianteira. Parasita é algo que você não pode descrever objetivamente com palavras, é algo abstrato que precisa ser vivenciado mesmo. ESPETACULAR!!!
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário