"Tell you what. The truth is: sometimes I miss you so much I can hardly stand it."
Uma palavra que resume as pouco mais de duas horas de O Segredo de Brokeback Mountain seria "dor". Há alívio, há esperança, há prazer, há desejo e satisfação, mas tudo isso é carregado de uma dor que torna todos esses sentimentos melancólicos ou até tristes. Focado no romance entre Jack e Ennis, o filme nos mostra como as convenções sociais conseguem suprimir cada indivíduo que vive nessa sociedade. Seja com os protagonistas ou com aqueles que estão a seu redor, o filme retrata sutilmente como todos seguem uma cartilha do que é esperado deles e não do que eles querem fazer, o que justifica o semblante baixo de cada personagem em tela, retratando o seu descontentamento com o que vivem, a sua infelicidade de não poderem atingir suas ambições e alcançar seus desejos.
Sufocados por essa realidade a seu redor, Jack e Ennis encontram em seus momentos juntos a única ocasião onde eles podem ser inteiramente eles mesmo, onde eles podem respirar, onde eles podem finalmente sentir uma inegável plenitude. Quando estão separados, tudo o que eles tem é um projeto de vida que não os satisfaz, que apenas formam um torturante intervalo entre um encontro e o outro. Não é à toa que o romance entre ambos fisga e convence o espectador com tanta facilidade. É quando eles estão juntos que o filme ganha força e impacto, como se tivesse saído de uma bolha de artificialidade que não condiz com nenhum deles.
Isso tudo não seria colocado de maneira tão brilhante em tela se o elenco não estivesse a altura, o que felizmente não é problema aqui, já que todos estão arrebatadores. Ledger retrata brilhantemente toda a repressão que Ennis sente do modo de falar relutante à expressão corporal. Gyllenhaal transmite toda a falta de pulso firme de Jack, ao sempre demonstrar um subserviência em relação àquele com quem ele divide a cena. Enquanto Williams e Cardellini estabelecem a dificuldade que suas personagens possuem de perfurar a armadura emocional de Ennis, Hathaway desenvolve a dinâmica quase formal entre sua Lureen e Jack com uma inteligência invejável. Além deles, Maxwell e McRobbie chamam a atenção como os pais de Jack, esbanjando uma profundidade emocional sobrenatural em pouquíssimo tempo.
Embalado por uma trilha sonora que não tenta chamar a atenção pra si mesmo em momento algum (o que é um grande acerto), O Segredo de Brokeback Mountain é uma obra tão completa, complexa, intensa e universal que chega a ser revoltante o filme ser mais lembrado por retratar a homossexualidade e o público encarar isso como um assunto polêmico do que pelo que ele mostra como um todo.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário