"- Tell me you know what you're doing.
- I don't. I never did."
Um toque, um olhar, um movimento de cabeça, um sorriso tímido. É através do pouco que Carol diz muito mais do que aparenta. Ao economizar naquilo que explicita, o filme instiga o espectador a captar o que está nas entrelinhas. Por exemplo, mesmo sendo sugerido várias vezes, a homossexualidade nunca se torna o principal foco da obra e nem deve. Por mais importante que seja essa característica para a ambientação da história, o essencial aqui é a paixão avassaladora das protagonistas e como essa relação afeta a vida de ambas naquele momento.
E é por causa dessa importância que a escolha das atrizes que dariam vida às protagonistas era algo que deveria ser feito com bastante cuidado. Felizmente, a escolha fez jus ao que a história necessitava e Blanchett e Mara estão arrebatadoras em seus papéis. Enquanto Blanchett encanta pela segurança que emana de sua personagem, mesmo diante de uma situação tão complicada como àquela em que ela se encontra, Mara consegue retratar toda a insegurança de sua personagem quanto à si mesma e quanto a seu futuro com uma sutileza de saltar aos olhos. Mas o mais apaixonante é ver o magnetismo que elas possuem quando dividem a tela, seja uma pela outra ou as duas com o público. Se acreditamos e torcemos para que o amor entre Carol e Therese triunfe é principalmente pela atuação fantástica dessas duas atrizes maravilhosas, que transformam um mínimo olhar em um torturante ato de desejo reprimido.
Como se essas atuações magistrais não fossem o bastante, o filme ainda possui três "personagens" cruciais para o seu sucesso: o figurino, a fotografia e a trilha sonora. O figurino ressalta sutilmente a maneira como cada protagonista afeta a vida da outra, como quando Therese passa a utilizar o vermelho (cor predominante em Carol) ou quando Carol quase que abandona completamente essa cor quando encontra-se obrigada a ficar longe de Therese. Servindo tanto para retratar a época (a filmagem em 16mm contribui para isso) quanto para evidenciar o romance das protagonistas (Carol está predominantemente no lado direito da tela enquanto Therese está predominantemente no direito, como se ambas se completassem até visualmente), a fotografia enquadra constantemente as personagens atrás de vidros e por reflexos, como se elas sempre tivessem um empecilho que as impedissem de se envolver completamente com o que está seu redor, como se existisse uma barreira invisível entre elas e o mundo.
Mas nenhum desses aspectos chega perto da importância da trilha sonora para o filme. Estabelecendo um clima melancólico e intenso, é quase impossível pensar em Carol sem pensar em sua trilha, pois é impressionante perceber como ela confere vida ao longa. Imaginar qualquer cena sem a trilha é como tentar imaginar uma nova cor: simplesmente não é possível. Carter Burwell dá origem à alma do filme e eu posso garantir que se Carol me impactou bastante, grande parte do sucesso disso deve-se a seu trabalho.
Através de uma condução sutil, delicada e inteligente, Haynes é o responsável por dar origem à um dos romances mais pungentes e atraentes que o Cinema já nos proporcionou. O final, com a câmera finalmente permitindo-se ficar tremida, é de tirar o fôlego.
"I miss you... I miss you..."
alguém me explica essa do atira pedra com a mão esquerda?
https://youtu.be/i7B5V8awTz4
Ícaro tem razão, a zoeira já foi de mais qualidade. Mas oque esperar de algo começado pelo alê
Teus textos já foram de mais qualidade, nem por isso ando comparando com os do Icaro