Antes de Batman Begins chegar aos cinemas, o público não guardava boas lembranças dos últimos exemplares do héroi no cinema. Falando rapidamente sobre, Joel Schumacher deu um tom cartunesco e colorido a Gotham e seu habitantes, o que contrasta tanto com o material original, como com as obras anteriores dirigidas por Burton, que não eram ótimas, mas ao menos tinham um brilho e conseguiam mostrar de maneira satisfatória o espírito das HQs.
Em 2005 Nolan retira o homem-morcego do limbo, e em Begins entrega a melhor obra baseada em Batman até então, dando um clima realista a Gotham e, finalmente, desenvolvendo a história de Bruce/Batman. Mas isso era apenas um aperitivo do que viria. Em 2008 veio O Cavaleiro das Trevas, quem tinha visto o antecessor, esperava algo bom, ou que ao menos estivesse no mesmo nível. E eis que Nolan nos pega de surpresa, e entrega não apenas o melhor exemplar do Batman, mas o melhor filme de hérois feito até hoje (se é que é possível rotulá-lo como um “filme de héroi”). Se em Begins faltava um bom antagonista, O Cavaleiro das Trevas entrega um dos melhores vilões que o Cinema já apresentou; Nolan dirige o filme de forma esplêndida criando um clima tenso em toda a película, além de aproveitar muito bem todos (todos mesmo) os personagens que vimos no filme.
Depois do que foi visto em O Cavaleiro das Trevas, muito se especulou se Nolan conseguiria se superar ou não na sequência. Após um longa espera, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge chega aos cinemas trazendo a resposta, que, ao meu ver, é negativa. Não que ele entregue um trabalho ruim, mas poderia ser superior ao anterior, se Nolan não tivesse cometido erros tão bobos.
A começar pelo roteiro, que tem furos gritantes, como o mais citado em fóruns e críticas na internet: “como Bruce conseguiu chegar a Gotham em pouco tempo e sem nenhuma ajuda?”. E também é repleto de pequenos furos que, dependendo da boa vontade do espectador, podem ou não ser relevados. E esse é o único da trilogia que contém diálogos risíveis como o “you are pure evil”, e apesar de não ser o único da trilogia que tem diálogos expositivos, os que vimos são muito forçados, como na cena em que Miranda revela ser Talia Al Ghul. Mesmo assim, os acertos do roteiro conseguem se sobressair sobre os erros, fazendo com que o saldo final fique bastante positivo.
Na direção, Nolan quase não erra, e mais uma vez entrega um trabalho incrível. A realidade com que Nolan tratou os exemplares anteriores é um tanto diminuída aqui, em vários momentos a história ganha um tom fantasioso, coisa que não tinha acontecido nos antecessores; quero deixar claro que isso não é algo negativo, é apenas uma observação. Aqui ele aplica um clima bastante sufocante, que deixa a plateia sem fôlego (literalmente), principalmente em seus dois últimos atos, onde “ficamos” presos em Gotham. Mas Nolan tem sérios problemas com a mise-en-scène, um exemplo óbvio disso é visto na cena em que os policiais de Gotham e os aliados de Bane se confrontam no maior estilo “filme de guerra”; melhor Nolan buscar uma aula para consertar esse problema.
Se Nolan comete erros bobos de um lado, ele acertou bastante na escolha da equipe que cuidaria da parte técnica, pois essa está irrepreensível. A começar pela fotografia, que é fria e cinza durante boa parte do filme, ressaltando o seu clima realista e frio. Os efeitos visuais não decepcionam, mais uma vez Nolan opta por usar efeitos mecânicos e acerta ao fazê-lo pois, ao invés do que acontece em grande parte dos filmes, eles ajudam a história, não servem apenas para atrair público. A trilha de Hans Zimmer reaproveita bastante do que já foi usado em O Cavaleiro das Trevas, mas em vez de soar repetitiva, ela consegue imprimir o clima que cada cena necessita de forma bastante satisfatória.
O elenco está repleto de surpresas, muitas positivas e algumas negativas. Começando pelas negativas, Cotillard entrega um trabalho ao nível de Renato Aragão, sua personagem está bem até o momento em que ela assume o posto de antagonista-mor do filme, é uma decepção ver uma atriz como essa em uma atuação tão pífia e superficial. A outra decepção fica por conta de Matthew Modine, que apesar de ninguem esperar algo espetacular dele, não era preciso entregar um trabalho tão forçado quando este.
Passando àqueles que entregam um trabalho no nível esperado temos Oldman, que faz um ótimo trabalho novamente, e entrega uma das melhores atuações do longa. Bale mostra que é o Batman/Bruce definitivo, sempre interpretando-o(s) com talento e fazendo com que Batman e Bruce sejam dois seres completamente diferentes, se houver mais um exemplar do héroi nos cinemas (espero que não, mas…), vai ser dificil superar este trabalho. Depois do Coringa de Ledger, a pressão sobre o vilão desta sequência era enorme, e posso dizer que Hardy entregou um ótimo trabalho como Bane; mesmo estando impedido de atuar usando o rosto, ele usa a voz e corpo como instrumento para poder transmitir todas as emoções de Bane, óbvio que esse trabalho não chega ao nível do Coringa de Ledger, mas ao menos não empalidece diante do mesmo. Mas apesar de Hardy entregar um ótimo trabalho, Nolan coloca quase tudo a perder ao colocá-lo apenas como um mero peão, e não como o mentor dos planos da destruição de Gotham.
As surpresas, ao menos para mim, ficam por conta de Hathaway, Caine e Gordon-Levitt. Creio que pouquíssimos esperavam algo bom vindo da Selina Kyle de Hathaway, e para a surpresa da maioria ela entrega um trabalho fascinante, mas tão fascinante, que é quase impossível reclamar de sua pequena importância para a trama. Levitt era uma incógnita para mim até o início da sessão, mas depois do diálogo entre Blake e Wayne, o ator mostrou que tinha capacidade de entregar um ótimo trabalho e o fez muito bem.
Mas Michael Caine consegue, com pouco tempo em tela, ser o personagem mais marcante. É incrível como a voz de Caine é o diferencial, pois os discursos feitos pelo Alfred são bastante clichês, mas ele põe tanta emoção a cada palavra que fica difícil não se emocionar com o personagem. Outros que também entregam trabalhos satisfatórios são Freeman e Murphy, o primeiro entrega um trabalho mediano, mas não é preciso mais que isso, visto que seu personagem não pede uma carga dramática maior e só existe para fazer a história avançar; o segundo faz uma pequena e divertida aparição como o juíz Crane, e ainda traz uma das melhores frases do filme: “morte… por exílio”.
Neste penúltimo parágrafo, destacarei algumas sequências que me agradaram bastante, que foram 3 no total. A 1ª, ou as 1ªs são, as duas lutas entre Bane e Batman, a primeira não recebe o auxílio de trilha sonora, e só ouvimos os sons dos socos e dos gritos de dor do Batman; a segunda mostra basicamente a fúria e a dor de Bane, e aqui o trabalho de Hardy é o diferencial da cena. A 2ª mostra Bane destruindo o estádio, aterrorizando os cidadãos de Gotham e os aprisionando na cidade, é uma sequência bastante tensa e a que mais mostra a capacidade de Bane como vilão. A 3ª é, obviamente, o final do filme, que é capaz de deixar uma dúvida na cabeça dos espectadores (Bruce morreu ou não? Embora agora eu tenha a certeza de que ele estava vivo, admito ter ficado com uma dúvida após o fim da sessão) e os empolgar ao mostra Blake (vulgo, Robin) entrando na BatCaverna.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é inferior ao seu anterior, e por isso muitos vão colocá-lo como uma decepção, mas estarão cometendo um equívoco, pois este aqui tem muitas qualidades que merecem ser levadas em consideração, pois elas conseguem sobressair aos erros. E são tantas qualidades que afirmo: Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é o melhor filme do ano até então, e será difícil superá-lo.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário