O filme tinha tudo para ser interessante, pois contava com um elenco bom, com presenças de Ethan Hawke e Willem Dafoe, e também apresentava uma proposta bem inovadora, uma sociedade de vampiros. Porém ele se perde ao não dar muita característica aos personagens. Pelo menos aqui não vemos nada de Bella Swan ou Edward Cullen... Se bem que Edward vemos sim, já que o personagem principal tem como nome Edward Dalton, será apenas coincidência?
A fotografia é ótima, as cenas são uma mistura de Gattaca com Blade Runner. O cenário moderno e com tons azuis e frios relembra o primeiro, mas com mais objetos em cena, e Blade Runner tem semelhanças com aquele aspecto de um futuro mais sujo e miserável. Claro são apenas semelhanças, mas este fator é um dos pontos fortes do filme. A sociedade composta por 95% de chupa-sangues é realmente bem trabalhada, e apresentada rapidamente aqui e ali, mostrando os avanços que eles obtiveram, em segurança principalmente, e também problemas enfrentados, como a diferença de ricos e pobres, mesmo entre vampiros. Os intermináveis jornais que estão por todo o filme são legais para quem gosta do gênero e aprofundam mais o cenário.
O que mais vale destacar é o que filme retrata: a escassez de sangue, que pode levar ao fim a raça humana e conseqüentemente a não-vida dos vampiros. Com isto cria-se a história, o personagem principal vivido por Ethan Hawke busca um sangue artificial para se tornar o alimento do futuro, mas as pesquisas não estão dando muito certo e as pessoas nas ruas estão sentido na pele as privações da falta de sangue. Como é de se esperar os mais pobres são os primeiros a sofrerem, e neste caso as conseqüências são muito bem feitas, com o jejum de sangue os vampiros vão adquirindo características monstruosas e em cerca de um mês, ou menos como se pode ver durante o filme, eles se tornam a chamada “subespécie”, muito mais distante da humanidade e prestes a perderem a consciência e só buscarem alimento.
Esta história é um simbolismo para o que poderemos enfrentar no futuro, a falta de água, além de ser uma crítica ao sistema capitalista. Este tema é o ponto alto do filme e muito bem trabalhado. Uma cena interessante de se analisar é quando Edward não nota, ou não se importa, com o desaparecimento de seu jardineiro, demonstrando bem o descaso que existe pelas pessoas que trabalham com serviços básicos e sem status.
Os atores são bons e interpretam bem, mas seus personagens não são bem trabalhados, o ponto que mais pesa para o filme não ser ótimo. Os personagens a primeira vista são interessantes, mas ao longo do filme se tornam rasos, como Edward, ou são vitimas de clichês, como a maioria dos humanos “caçadores”. Vale destaque aqui para o engraçado Elvis, interpretado por Willem Dafoe e suas ótimas falas, além de um destaque para a história construída sobre o personagem ambicioso de Sam Neill, o empresário Charles Bromley, que poderia ter tido mais personalidade. Destaque também para a maioria dos figurantes, como os vampiros crianças da escola Birkeley e a atendente da cafeteria, além do Detetive Cosgrove. Estes personagens são interessantes esteticamente e foram utilizados bem.
O figurino parece ser muito retrógado, geralmente isto é ligado aos vampiros, porém no filme deixa a entender que não existe nenhum deles antes do ano de 2009, então porque estes vampiros utilizariam uma moda tão anacrônica? Apesar dessa incoerência a aparência dos personagens é bem interessante. Outro ponto que me desagrada é a cena de fuga, que a meu ver é exagerada e forçada, mesmo que o personagem Elvis seja um exímio motorista. A cena dos soldados na parte final é extremamente boa e regada de muito sangue, claro. Muitas cenas mostram características deste novo mundo, dominado por vampiros e outras deixam a entender que uma continuação do filme é bem provável. As explicações sobre o início e a cura do vampirismo são bem poucas e nos faz pensar que existem dois meios para reverter à doença, que é tratado no filme como uma pandemia. Uma delas é o que curou Elvis e Edward, já a outra é a que cura os outros vampiros.
Daybreakers vale como filme por não fugir do vampirismo clássico e transformá-lo em algo totalmente infiel, como Crepúsculo fez, isto fica claro logo na primeira e brilhante cena do filme, que te faz ficar esperando o clássico do gênero. Além disto, traz uma comparação interessante com nossa sociedade e a possível falta de água que ocorrerá no futuro. É uma mistura de originalidade com poucos clichês, que poderia ter sido mais focado nos personagens e em suas personalidades, o filme ainda traz uma trilha que se encaixa muito bem nas cenas. O considero bom em se tratando de filmes de vampiros, mas precisava de muito mais para desbancar os clássicos.
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