Horrível. E infelizmente, previsível e evitável. Não é de hoje que os Estados Unidos tentam ocidentalizar produções asiáticas e fracassam vertiginosamente. Como esquecer o terrível "Dragon Ball Evolution"? Death Note não escapou. A produção de mangá e anime nipônica foi um sucesso estrondoso no Oriente e também no Ocidente. Ganhou por lá um Live-Action - e esta versão americana conseguiu algo improvável: ser pior do que o fraco filme asiático. A história aqui é sobre um caderno sobrenatural que dá ao portador o poder de assassinar uma pessoa, escrevendo seu nome nas páginas do caderno.
É com essa premissa interessante que o roteiro logo afunda, provando-se nonsense e totalmente focado ao besteirol adolescente. Com personagens totalmente desprovidos de qualquer característica positiva, somos apresentados a Light Turner - aqui, um nerd introspectivo; que sofre bullying e possui o seu crush por uma líder de torcida (alô, clichê?!) -, nem de longe lembra o Light Yagami que conquistava a simpatia do público na obra original.
Light encontra o caderno - lá, os cadernos são propriedade dos shinigamis; aqui, os shinigamis aparentemente não servem para nada a não ser repassar o caderno caso o dono não o toque em sete dias. Qual uma das primeiras coisas que o descerebrado Light Turner faz? Se amostrar para a líder de torcida que ele mal conhece, confiando 100% nela um segredo mortal e perigoso. Sim, o roteiro parece ter sido feito para atingir um público pouco exigente em coerência, lógica e bom senso.
O filme é curto demais (e isso é grave); deixando tudo mal explicado, apressado e forçado. Posteriormente na trama, Mia (baseado na personagem Misa, no original) sugere matar o pai de Light (chefe de polícia). O garoto descerebrado apenas a repreende; e só. Quando é que alguém em sã consciência agiria assim com quem é capaz de tentar assassinar alguém da sua família? A personagem da Mia, aliás, totalmente descartável e mal explicada - a garota, de início, receosa com a ideia do caderno, minutos depois, mata gente inocente sem nenhum problema - saudades de cineastas que não possuíam preguiça de desenvolver a história e os personagens.
O roteiro segue proporcionando situações pra lá de retardadas, que não convencem de forma alguma. Não vá esperando as motivações criativas do original: a construção de um "Novo Mundo"; as passagens filosóficas a respeito das atitudes do protagonista, o jogo de gato e rato estrategicamente travado entre os personagens. Tudo é muito mal feito e porcamente produzido. Até os plot-twists são totalmente nonsenses. Depois de matar mais de 400 pessoas, Light DE REPENTE vira um garoto que tenta convencer sua namorada de que não devem mais matar ninguém. Zzzz...
Ironicamente, quem mais se destaca na obra foi justamente aquele que mais torceu os narizes dos fãs: L. Interpretado aqui por Lakeith Stanfield - que provocou críticas por ser negro, diferenciando-se do personagem originalmente britânico branco; o garoto faz o que pode dentro do roteiro que lhe foi dado e convence. Nat Wolff (Light), por outro lado, está péssimo.
O roteiro ainda abre espaço para uma pastiche de romancezinho adolescente, com direito a soft rock e juras de amor. Santa paciência. Em determinados momentos, o caderno parece apenas uma desculpa para que o romance aconteça.
No fim, Death Note é um grande equívoco; um desrespeito aos fãs e não deve agradar a quem vai apenas tentar assistir um bom filme, sem conhecer a obra. Um filme para ser esquecido e ignorado.
Há... Soft rock é até legal :)