Nascido em 29 de junho de 1921, Ray Harryhausen é o profissional da área de animação de stop-motion mais reverenciado do Cinema. Quando tinha apenas 12 anos, Harryhausen assistiu ao filme que impulsionaria a sua paixão pela técnica de stop-motion, a obra-prima King Kong. Foi Willis O'Brien que deu vida ao gorila gigante e Ray era um grande fã de seu trabalho. Mas no que consiste essa técnica? Basicamente, essa é um método de animação onde os modelos são fotografados quadro a quadro, dando a ilusão de movimento. Simbad e a Princesa, além de ser uma ótima aventura, é um dos filmes mais famosos de Ray Harryhausen, onde ele usou e abusou do stop-motion, dando vida a criaturas espetaculares.
Vamos à história em si. Baseada nos contos de As Mil e Uma Noites, o filme nos conta sobre Simbad (Kerwin Mathews), um corajoso marinheiro e filho do rei de Bagdad que está navegando para a sua terra natal com sua amada, a Princesa Parisa (Kathryn Grant), para selar a paz entre os reinos. No meio da viagem, eles encontram uma ilha chamada Colossus, e lá se deparam com um terrível Ciclope e um malvado feiticeiro, Sokurah (Torin Thatcher), que possui uma lâmpada mágica. Após escaparem do monstro, eles conseguem escapar da ilha e Sokurah, que teve sua lâmpada roubada pelo monstro, foge com eles. Chegando a Bagdad, o feiticeiro pede uma escolta e um navio para poder voltar para a ilha e assim recuperar o seu poderoso pertence. Entretanto, o rei de Bagdad se recusa a atender seu desejo, mesmo quando Sokurah realiza uma poderosa feiticeira para seu agrado. O mago então enfeitiça a princesa, diminuindo-a de tamanho, e a única maneira de desfazer a magia é indo à ilha e preparar uma poção com a casca do ovo de um pássaro gigante. Simbad, sem ter outra escolha, volta para Colossus, levando a princesa e o feiticeiro, e lá eles vão enfrentar não só o Ciclope, mas outras criaturas tão terríveis quanto ele.
Quando eu disse, lá no início, sobre as criaturas serem espetaculares, eu estou levando em consideração a época em que a obra foi realizada. É óbvio que hoje esses monstros não causam espanto e nem medo, não se você já ficou pregado na cadeira depois de assistir Jurassic Park, a refilmagem de King Kong e a grande batalha de O Retorno do Rei. Mas esses monstros tão perfeitos de hoje em dia devem sua criação aos gênios do stop-motion, como O'Brien (pioneiro nessa arte) e Harryhausen. O próprio Steven Spielberg diz ser um grande admirador de Harryhausen. Ele usou em Jurassic Park a técnica de go-motion para criar os dinossauros, onde as criaturas ganham movimentos mais suaves e reais. O go-motion não é nada menos que uma versão avançada de stop-motion, que por sua vez é uma versão avançada da técnica surgida em 1890, quando foi inventada a plasticina, uma massa modelar a base de óleo.
Dentre os seres mais interessantes do filme, se destacam o já citado Ciclope, a mulher-cobra (nota-se, pelos movimentos da mulher-cobra, o quanto foi divertido para Ray dar-lhe movimentos), os esqueletos e o pássaro de duas cabeças, além da luta entre o ciclope e o dragão (a criatura menos impressionante do filme), uma clara referência a luta entre Kong e um dinossauro no filme de 1933. Hoje em dia todos esses monstros são quase risíveis (assim como o próprio Kong), mas como negar a importância dessa técnica para o que seria o futuro do Cinema? É maravilhoso poder ver a evolução de efeitos especiais da Sétima Arte ao longo dos anos. Nunca podemos olhar obras como essa com desdém, pelo contrário, elas exerceram um papel fundamental na evolução artística do Cinema. Ray Harryhausen tem em seu currículo outras dezenas de obras, as mais famosas sendo, além da obra criticada, O Monstro do Mar Revolto, A Invasão dos Discos Voadores e A 20 Milhões de Milhas da Terra, onde deu vida aos mais variados monstros, incluindo um polvo-gigante, Talos (uma estátua que ganha vida) e Hidra ou Medusa (uma serpente com várias cabeças).
Finalizando, o filme é bem dirigido por Nathan Juran e conta com um elenco razoável, que peca por dar a vida a personagens tão rasos e irritantemente ingênuos, até para os padrões da época e dentro do que o filme propõe. Thatcher interpreta o mago mais imbecil de todos os tempos, você com certeza irá rir com as caras e bocas que ele faz. Na verdade, é muito mais provável que os personagens em carne em osso sejam mais dignos de risos do que as criaturas de Harryhausen. Mas apesar da fragilidade das atuações e das atitudes dos personagens, a obra de Juran é uma aventura bem acima da média. Para quem se deixar levar, o filme é um ótimo entretenimento que nunca fica tedioso, mas ainda assim valendo mais a pena ser assistida por causa da sua contribuição ao Cinema.
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