As décadas de 40 e 50 foram marcadas por vários filmes do gênero noir, um gênero que hoje é motivo de discussão entre os críticos e estudiosos de cinema pelo fato de não haver uma opinião unânime se esse estilo de filme pode continuar a ser aplicado à algumas películas atuais.
Fotografia escura e com forte contraste preto-e-branco inspirada no expressionismo alemão, personagens cínicos, uma femme fatale e um assassinato são geralmente os fatores principais desse gênero/estilo, e a obra em questão a ser criticada se encaixa perfeitamente nessas características.
A trama nos conta a intricada história do detetive Mark McPherson em sua busca pelo assassino de Laura, uma mulher que subiu na vida graças ao seu talento e da ajuda de um influente jornalista, Waldo Lydecke, seu devoto em último grau. Apesar do amor que Waldo sente por Laura, ela acaba se envolvendo com o playboy Shelby Carpenter, que por sua vez é amado intensamente pela tia de Laura, Ann Treadwell.
Já que estamos falando de um verdadeiro exemplo de filme noir, é de se esperar que todos essas personagens envolvidas estejam escondendo algo, afinal, no mundo noir ninguém é inocente, muito pelo contrário, esse mundo é repleto de cinismo e um (alto) quê de antipatia que emana dos envolvidos, a fotografia escura realça ainda mais esse aspecto obscuro das personagens.
Um ótimo exemplo é o jornalista/colunista Lydecker, sua personagem é claramente um ser solitário, em seu primeiro encontro com Laura ele demonstra um grande desprezo pela moça, até é claro, o seu grande envolvimento com ela, quando o sentimento muda drasticamente do desprezo para a devoção.
Todas as personagens (como exceção do detetive) são suspeitas da morte de Laura, esse é outro ponto muito importante num filme desse gênero, a única pessoa em quem confiamos é o detetive, que geralmente apresenta um caráter um pouco melhor e mais digno de simpatia ( se ele não for representado por Humphrey Bogart). Ah sim, temos ainda outro ponto indispensável: uma grande reviravolta na trama! Afinal não estamos falando apenas de um filme noir, mas um filme noir que envolve um crime, logo requer uma virada inesperada.
E qual é essa reviravolta? Laura está viva! Ainda que estejamos esperando uma virada na história, a jogada do diretor Otto Preminger foi de mestre, ele colocou a cena da 'volta' de Laura logo depois de termos presenciado a 'quase confissão' de McPherson do seu amor pela moça, ele então não mais precisará se contentar apenas com uma pintura da femme fatale.
Com a volta de Laura, a história fica ainda mais intricada. Quem morreu em seu lugar foi o affair de Carpenter, e assim Laura passa a integrar o hall dos suspeitos. McPherson passa a instigar ainda mais os envolvidos, numa busca desesperada para ter certeza que a sua amada é inocente, e assim presenciamos ainda mais a inescrupulosidade das personagens.
Com ótimas atuações, destaque para Clifton Webb e seu seco Lydecker, 'Laura' é um filme noir à altura de outros do mesmo gênero, como Pacto de Sangue e O Falcão Maltês, com diálogos rápidos e fortes apesar de seu final não ser tão forte como os dos citados e a femme fatale não ser tão poderosa quanto Phyllis Dietrichson (chega até a ser um exagero todos os homens na trama se apaixonarem tão loucamente por Laura, Gene Tierney não é tão irresistível assim).
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