Antes mesmo de "Caçadores da Arca Perdida" sair do papel, George Lucas, um dos roteiristas da saga, disse à Spielberg que queria que Indiana Jones fosse uma trilogia de aventura. Dito e feito. Spielberg, três anos depois de dirigir o bem-sucedido primeiro episódio, lançou a segunda aventura de Dr.Jones. "O Templo da Perdição" é o filme de menor sucesso entre os três lançados na década de 80, mas isso não significa que a obra seja ruim, pelo contrário, o filme é um passatempo divertidíssimo, e partindo do pressuposto que a saga Indiana Jones foi feita com esse objetivo, esse é um ótimo elogio.
Nessa nova aventura, esqueça nazistas e uma universidade tranqüila. Dessa vez, somos jogados diretamente nos acontecimentos que será o fio condutor para a aventura maior do nosso herói. Se no primeiro, a seqüência inicial foi um 'mini-filme' dentro do filme que não tinha uma importante ligação com os acontecimentos futuros, servindo mais para dar corpo e personalidade ao herói e definir o tom aventuresco da obra, agora Indiana Jones, em companhia de seu corajoso ajudante-mirim, Short Round (Jonathan Ke Quan) e da espalhafatosa cantora Willie Scott (Kate Capshaw) irão passar por uma aventura de tirar o fôlego para caírem em uma maior ainda, mais sombria e ainda mais perigosa que a caçada à Arca Perdida.
Tudo começa quando Indy vai a um cabaré na China para fazer uma troca com mafiosos, ele entrega ao chefe da máfia, Lao Che (Roy Chiao), uma peça rara contendo os restos mortais do primeiro Imperador da Dinastia Manchu, em troca recebe um diamante como pagamento. Porém, após a troca, Lao quer pegar o diamante de volta e coloca um veneno na bebida do arqueólogo, Indy então precisa entregar o diamante para conseguir o antídoto.
Tudo vira uma confusão, Willie consegue pegar o antídoto e os três fogem indo parar dentro de um dos aviões de carga de Lao, caindo numa grande armadilha. Após serem deixados sozinhos no avião que está prestes a se colidir com uma montanha, o trio pula do avião dentro de um barco inflável e vão parar na Índia. Lá, eles são levados a uma pequena vila e o chefe da aldeia interpreta a chegada do trio como a resposta do Deus Shiva à suas preces. Da aldeia foi roubada uma pedra preciosa que mantém o equilíbrio do lugar, essa pedra foi levada para o Palácio Pankot, onde o líder de uma seita, Mola Ram, usa crianças como escravas numa escavação em busca das outras pedras e faz rituais de sacrifício humano para poder expandir seus domínios e acabar com todas as outras religiões, e também libertar a Índia do domínio britânico. A missão de Indiana Jones é ir ao palácio e recuperar a pedra, para que a paz volte a reinar na aldeia. Os nazistas irão parecer brincadeira de criança.
Corroborando o que Spielberg afirmou, "O Templo da Perdição" é o filme mais sombrio da trilogia, isso é um dos fatores que explica a sua menor popularidade. É certo que esse tom mais pesado da obra teve a influência deliberada de George Lucas, tanto que o diretor também fez um paralelo interessante com o que aconteceu com a trilogia "Star Wars", em que "O Império Contra-Ataca" é também o mais sombrio, assim os dois filmes entram na vertente "tudo piora antes de melhorar".
A seqüência inicial de tirar o fôlego define como será a atmosfera de toda a obra, nesse segundo episódio temos cenas de ação muito mais emocionantes. Como não congelar na cadeira quando Indy e Short Round estão quase sendo esmagados e perfurados dentro de um compartimento, e a vida deles depende da histérica Willie, que terá que enfrentar os insetos mais asquerosos para salvá-los? A seqüência é brilhante e cria uma tensão crescente de fazer roer as unhas, e é até mesmo engraçada em certos momentos devido às piadinhas de Indy e seu companheiro, que servem como alívio cômico ante as situações mais desesperadoras, essas piadas também são uma maneira de não deixar o filme com um aspecto mais sério do que o necessário. Não posso deixar de comentar também sobre a estonteante perseguição em carrinhos de mineração, onde temos a sensação que nós mesmos estamos no carrinho por causa do posicionamento da câmera em alguns momentos, o espectador vê o que o próprio trio vê à sua frente, apenas os trilhos descendo, subindo e indo para os lados, tão rápido quanto uma montanha-russa. Sem sombra de dúvida várias cenas desse filme estão entre as mais inesquecíveis da trilogia.
E sim, os bichos nojentos estão lá, dessa vez baratas e besouros serão o terror dos aventureiros. Nem na refeição do palácio o trio estará livre deles, com direito a cérebros de macacos congelados, escaravelhos e cobras. O aspecto sombrio também se dá por conta do ritual macabro liderado por Mola Ram, onde vemos um coração sendo arrancado para o sacrifício e Indy obrigado a beber sangue e assim se tornar um escravo que viverá eternamente num pesadelo. Por falar em Ram, o vilão nunca apresenta um perigo tão grande quanto as situações em si, e essa é também uma das marcas dos filmes de Indiana Jones, que realçam os perigos dos lugares em detrimento de uma figura vilanesca.
A inserção de um ajudante e amigo de Indiana Jones foi uma decisão acertada. Ke Quan faz de Short Round um garoto bastante carismático e corajoso, de certa forma uma versão criança do próprio Jones. À medida que o perigo aumenta, a bela amizade dos dois vai se fortalecendo de uma forma bastante natural. Já Capshaw interpreta a mocinha que, diferente da corajosa Marion, se mostra bastante chata na primeira parte do filme, com trejeitos exagerados e clichês, porém ela, como era de se esperar, acaba ficando um pouco mais corajosa e menos egoísta, e claro, se torna mais um affair de Jones, que além de ser um exímio arqueólogo, é um conquistador nato.
O clímax faz jus a toda emoção vista antes. A sequência na ponte é muito bem feita, e tão emocionante quanto a abertura e a perseguição nos carrinhos. O Oscar de Efeitos Especiais foi mais que merecido. Apesar de tantas qualidades,"O Templo da Perdição" é o mais fraco entre os três, mas não deixa de ser puro Indiana Jones, um entretenimento garantido.
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