"Eu estou ótimo!"
É quase inegável a imensa dificuldade que a maioria das pessoas encontra em "se sentir bem", e os americanos, mesmo fazendo parte do "país mais importante do planeta", não conseguem fugir dessa realidade, se igualando ao mundo todo.
Beleza Americana é o retrato perfeito da sociedade moderna. Lester Burnham, interpretado brilhantemente (mais uma vez) por Kevin Spacey, é um homem absolutamente acomodado e infeliz no emprego, com um casamento de faixada, frustrado por não ter uma boa relação com a filha. Parece familiar? Pois é...
99% dos relacionamentos são uma maravilha no começo. O casal apaixonado faz planos de construir uma família, conhecer o mundo, envelhecer juntos, mas muitas vezes, com o passar do tempo, com os problemas comuns de um casamento, o amor vai acabando, o casal vai caindo na rotina, passando a enxergar, um no outro, alguém distante, sem muito espaço para diálogos, tornando a relação fria, infeliz.
Quando crianças, os filhos são a alegria da casa, o centro da relação familiar. Seus sonhos passam a ser os sonhos dos pais, suas angústias, alegrias, dúvidas, são compartilhadas com a família, e isso de certa forma acaba unindo-os.
Mas quando chegam na adolescência, suas frustrações e medos, normais da idade, geralmente falam mais alto que a vontade de se relacionar com seus genitores, e somente as famílias com boa estrutura conseguem "segurar a bronca". O que geralmente acaba acontecendo é o isolamento desses jovens, que vêem nos pais verdadeiros obstáculos.
Beleza Americana é um grande filme por isso. Nos mostra exatamente o que vemos todos os dias, e isso é cruel. Jane Burnhan (Thora Birch), a filha confusa, distante dos pais, com baixa auto-estima; e Carolyn Burnham (Annette Bening, em grande atuação), uma coroa sempre preocupada com a aparência, que demonstra imponência e confiança, mas que no fundo é completamente frustrada e infeliz, estão por toda a parte.
Angela Hayes (Mena Suvari), uma jovem atraente e provocante; Buddy Kane (Peter Gallagher), um homem seguro e bem-sucedido; e Ricky Fitts (Wes Bentley), um jovem misterioso, mas de natureza simples, são para Lester, Carolyn e Jane, respectivamente, o símbolo de uma trégua da vida monótona que levam há anos, a representação do sonho de buscar o que suas vidas tanto anseiam, e que parece tão distante.
Quando Lester finalmente resolve fugir do terrível convencional que é sua vida, é quase impossível não se identificar e torcer por ele. A cada nova "barreira" quebrada, o personagem se aproxima mais de uma vida feliz, o que certamente tanto os outros personagens, quanto nós, muitas vezes não temos coragem de fazer.
O roteiro muito bem elaborado, capta muito bem as frustrações de cada um, deixando quem assiste inquieto, ansioso para o desfecho da trama. Desfecho esse que não poderia ser melhor.
O diálogo entre Lester e Angela é um dos meus favoritos. Tudo se encaixa com uma sutileza impressionante, nos fazendo pensar um pouco sobre o mais importante da vida. No final, tudo o que interessa é enxergar a beleza ao nosso redor, americana ou não, e a felicidade de poder dizer, com sinceridade, do fundo do coração, "eu estou ótimo"'.
"Vivemos de aparências". Este é o recado de Sean Mendez em seu Beleza Americana. Ótimo texto.
Beleza Americana é um dos maiores socos na cara da sociedade aparentemente feliz americana... Belo texto xará!
Valeu Lucas e Cristian!!! Realmente é um grande filme!