O que é preciso para se fazer um filme grandioso? Bergman nos ensina que quatro personagens e um pouco mais que cinco cenários são suficientes para construir uma das obras mais significativas da história do cinema. A raiz de todo o trabalho do mestre está no roteiro, contruido-o de forma fluída, com uma perfeita composição entre exposição clara e diálogos densos e marcantes. A partir daí, Bergman assume a direção, e junto com Sven Nykvist, desenvolve um padrão estético repleto de planos contemplativos e enquadramentos que parecem iluminar cada cena.
Porém, querer explicar a magneficiêcia deste diretor pelos atributos técnicos de sua obra é pura bobagem. Bergman nos obriga a deitarmos sobre uma linguagem conotativa e lírica para expressarmos o que seus filmes nos fazem sentir. "Através de Um Espelho" coloca seus personagens para representar as relações humanas em sua essência, com um drama familiar discorrido ora à ponta de faca, ora com sutileza.
A loucura da personagem Karin não é usada para criar uma atmosfera de suspense como normalmente acontece no cinema, aqui, os distúrbios mentais são um centro irradiador de dor e desolação. Na impossibilidade de comprender esses transtornos da mente, cresce nos personagens a fé. Não uma fé religiosa, mas uma espécie de esperança apaixonada reforçada pelos laços familiares. O personagem de Max Von Sidow, em atuação antológica, transmite esse sentimento de forma clara.
O personagem de Gunna Björnstrand, se alterna entre duas figuras dististas durante a trama. A figura paterna, de pai distante porém amado, que parece ressentido por assumir a sua segunda figura. A de um escritor frio e distante, que renega o amor de seus filhos em nome do trabalho e analiza com crueldade clínica a doença de sua própria filha.
Juntos, estes conflitos internos juntam-se brilhantemente aos conflitos externos do convívio familiar, dando ao filme uma profundidade superior a quase totalidade de dramas da história do cinema. Essa arte, na qual os Irmãos Lumiére conquistaram a habilidade de usar uma câmera, teve um dos seus maiores apíces aqui, quando o homem conquistou a habilidade de usa-lá para representar os aspectos mais profundos de sua existência.
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