Darth Vader era o personagem mais multifacetado e interessante presente na trilogia original (a única figura capaz de encarar o vilão de frente era Luke, que tinha uma personalidade tão instigante quanto á do pai). E aposto que quanto uma nova trilogia fora anunciada os fãs foram á loucura (até eu, que sou um fã recentíssimo da saga fiquei empolgado para conferir este episódio 1), e esta excitação era completamente compreensível, pois, a trama de todos os três episódios focariam na vida de Vader, mostrando como se transformou em um Jedi, como foi para o lado negro da Força e como se tornou um dos imperadores mais temidos e poderosos do universo. A ideia era genial e pra lá de empolgante, não há como negar. Portanto, é quase impossível não dizer que A Ameaça Fantasma não é um filme que desaponta os fãs, mesmo que passe muito longe de ser um filme ruim, este Episódio I tem defeitos impossíveis de se negar, mas, felizmente, também tem aquelas qualidades que definem a saga.
Escrito por George Lucas (que retorna á comandar a história), o roteiro tem início com o envio de dois Jedis em uma missão importante envolvendo um planeta em crise, uma população desesperada, uma princesa leal ao seu povo e uma Federação impiedosa e que tem planos malignos planejados. Durante a tentativa de levar a rainha Amídala até á capital da Republico Caláctica, os Jedis são forçados á pousar no (já conhecido pelo público) planeta Tatoonie, onde encontram um jovenzinho curioso chamado de Anakin Skywalker, e que de acordo com as teorias de Qui-Gon Jinn será a pessoa responsável por equilibrar corretamente os dois extremos da Força.
A maior força de A Ameaça Fantasma se reside exatamente no que já conhecemos (as tramas dos Episódios IV, V e VI). Mesmo sabendo seu destino é incrível acompanhar a infância de Anakin e ainda ficar extremamente ansioso pelo que vem á seguir. Além disso, temos algumas aparições perfeitas para os fãs (em especial á do andróide C-3PO) e algumas referências aos filmes anteriores (Como, quando logo no início, um dos protagonistas diz: ‘Eu não tenho um bom pressentimento sobre isso’), portanto é óbvio dizer que este Episódio I passa longe de se sustentar sozinho, passando á ser apenas mais uma peça dentro da saga. É uma pena, que mesmo explorando novos e interessantes ambientes este filme não apresente nenhuma grande novidade para o público. E como já comentei anteriormente, o roteiro acerta apenas quando usa a trilogia original como base (o que ocorre durante um pouco período, infelizmente), e consequentemente quando tenta inserir novas tramas e grupos de personagens o filme falha imensamente (toda a história envolvendo a personagem de Natalie Portman é tão desinteressante que causa indiferença na platéia).
Em contraponto ao roteiro ‘mais-ou-menos’ assistimos á um verdadeiro espetáculo visual. A seguinte frase pode resumir muita coisa: Se na década de 80, Star Wars já apresentava uma parte técnica cuidadosa e eficiente, imagine só quase vinte anos depois. Os efeitos de computação gráfica são maravilhosamente bem executados e funcionam principalmente quando criam novas criaturas, além de darem a chance de Lucas levar á tela algumas sequências realmente ambiciosas para a época (o momento aquático é ótimo, mesmo que a fotografia escura atrapalhe um pouco). E como sempre, temos uma direção de arte simplesmente fenomenal, que além das já comuns batalhas espaciais de primeira qualidade, entramos em cidades que além de mostrarem a personalidade dessa nova fase, remetem aos capítulos anteriores (destaque para as sequências que se passam em Tatoonie, que atiçam o público com ‘aquela’ nostalgia). Ainda é necessário comentar a excelente corrida que se passa lá pelos quarenta minutos de projeção; além de ser muito bem comandada, apresenta uma alta dose de criatividade e empolga qualquer um com facilidade.
É uma pena que em uma questão crucial, essa nova trilogia não tenha um bom começo: Tanto os atores, quanto seus personagens não chegam nem perto de terem o mesmo carisma e encantamento que Luke, Han Solo e a Princesa Leia tinham. No lugar deles, temos Qui-Gon Jinn, interpretado por Liam Neeson, que é uma figura ora doce ora forte, o que dificulta o envolvimento do expectador com o personagem. Também temos Obi-Wan Kenobi, ‘levado á vida’ por Ewan McGregor, que obviamente desempenhará um papel importantíssimo nos episódios á seguir, porém aqui não passa de um mero coadjuvante mal aproveitado pelo script. Ainda sendo a pessoa mais interessante á se acompanhar, Anakin Skywalker instiga o público (como já comentei) exatamente por parecer uma figura tão pouco ameaçadora, porém, o ator mirim Jake Lloyd não consegue carregar o peso de Anakin se mostrando um ator incapaz de cativar ou emocionar. O alívio cômico aqui é mantido por Jar Jar Binks, que não chega nem perto de ter aquela carisma ou encanto da dupla C-3PO e R2-D2.
Porém, o maior dos problemas de A Ameaça Fantasma está em seu tom: George Lucas estabelece um ar infantil nunca visto antes na saga (mesmo quando os aborrecidos Ewoks estavam em tela, acompanhávamos a trajetória de Luke, que, felizmente, balanceava esse ponto). Existem vários possíveis fatos para colocar a culpa, como as cores fortes usadas exageradamente no filme e trilha sonora que é infantil demais em certos momentos, mas o grande responsável por isso é o vilão Darth Maul, que não apresenta nenhuma ameaça real aos protagonistas, excluindo o clima de urgência e perigo mantido por Darth Vader nos demais capítulos.
Mesmo sendo o episódio mais fraco até aqui, A Ameaça Fantasma é uma boa introdução á nova trilogia, mesmo que passe a responsabilidade para os capítulos II e III, basta saber se estes vão responder o desafio á altura (algo que todos já sabem, menos eu)...
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