Pra mim a verdadeira época de ouro da Disney foi na década de 90 (e tenho certeza de que muitos concordarão comigo): Se apresentando como um tempo em que o cinema e a linguagem de se contar histórias estava mudando a cada ano, o estúdio acabou fazendo obras primas máximas do mundo da animação, e a lista (grande) inclui Mulan (1998), Tarzan (1999), Aladdin (1992), A Bela e a Fera (1991) e O Rei Leão (1994). Então foi com uma surpresa espantosa que eu me vi encurralado com o relançamento de Pocahontas (1995) em DVD (e pela primeira vez Bluray), pois eu me lembrava de ter visto o filme muito pequeno e poucas tomadas vinham a minha cabeça. Assim, não pensei duas vezes antes de rever o longa.
Pocahontas tem início com a partida de uma navegação inglesa com rumo ao famoso Novo Mundo, que de acordo com o arrogante capitão, a tripulação encontrará muito ouro. Chegando lá, John Smith se separa do grupo por alguns minutos e então conhece a doce personagem título, e logo fica fascinado pela índia e pelos seus costumes. E com isso os dois terão que impedir que a guerra mortal aconteça que ameaça o mundo de Pocahontas, e portanto sua própria vida e de todo seu povo.
Primeiramente é válido comentar que mesmo pertencendo a essa época dourada do estúdio de animação, Pocahontas não chega nem perto do glamour e brilhantismo dos filmes citados á cima, e portanto acaba indo para a lista de filmes esquecidos da Disney (que inclui filminhos bobinhos e esquecíveis como As Peripécias do Ratinho Detetive, O Caldeirão Mágico e Aristogatas), o que não significa que esse é um filme dispensável e que não tenha seus atributos: Poucas obras conseguiram transmitir tão bem a magia presente na Disney, a explosão de cores é fenomenal e muito bonita de se acompanhar, além disso, os cenários e os ângulos adotados para se contar a história são ótimos.
Felizmente, o filme ainda é musicalmente suportável, se por um lado alguns de seus números musicais sejam falhos, por outro assistimos a verdadeiro espetáculo para os ouvidos em outras passagens – principalmente por causa das letras bem significativas – e tudo isso fica ainda melhor com a maneira com que a produção trata a natureza, transmitindo uma boa mensagem para as crianças. Ainda temos excelentes alívios cômicos, que conseguem tirar boas risadas do espectador sem se esforçar muito.
O fato é que os defeitos de Pocahontas são tão fortes quanto suas qualidades: Mesmo com pouco menos de noventa minutos de duração, o filme parece bem maior, mesmo com o ritmo consistente e a história rápida e curta. Isso é uma consequência (mesmo que indireta) do tom mais sério e adulto que o filme abraça sem dó de seus espectadores mirins, e diferente de O Corcunda de Notre-Dame, essa característica acaba atrapalhando no desempenho geral da animação. A conclusão ainda é outro fator que merece uma atenção maior, já que é coerente e convincente e provavelmente agradará os adultos, porém, as crianças vão se sentir desapontadas com o final.
Pocahontas ainda tem outra dificuldade em agradar os mais jovens: Apesar da qualidade de seus personagens engraçados e bobinhos, os personagens presentes no filme são profundos e emocionalmente complexos, transmitindo insegurança em suas decisões e que caminho tomar, já que o impacto dos dois mundos cria um amontoado de emoções desconhecidas e intrigantes, que mexem brutalmente com a cabeça dos personagens. E, exatamente, por apostar nesse lado mais difícil de se desenvolver, o filme não apresenta nenhuma figura cativante ou que transborda carisma, mesmo que tenhas personalidades interessantíssimas e que são bem ‘dissecadas’ ao decorrer da trama.
Se tornando uma das produções menos divertidas da Disney (o que não significa que é um dos piores), Pocahontas dá motivos de sobra para causar desgosto e antipatia, mas também dá alguns sutis motivos para agradar os mais crescidos. No geral, eu não poço dizer que fiquei insatisfeito com o filme, mas tenho certeza que se eu pegar Pocahontas para rever daqui uns cinco anos terei exatamente a mesma sensação de que tive alguns dias atrás: Amnésia...
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