(Possuí alguns Spoilers.)
Goste você ou não, O Mágico de Oz é um clássico do cinema e um dos maiores musicais já feitos. Mesmo com cenas datadas e extremamente cafonas, o filme continua relativamente eficiente atualmente, e levando em conta o ano em que foi lançado, isso é um feito e tanto: A mensagem universal, a história simpática e simples, Over the Rainbow e – principalmente – a excelente sacada do uso de cores vivas e fortes em Oz em contraste ao preto e branco do Kansas, sobrevivem até hoje. Além disso, é um filme que pode ser tecnicamente comparado a outro clássico chamado A Fantástica Fábrica de Chocolate: Se você ver os dois filmes em seguida, terá a impressão de que foram feitos na mesma época, porém, a jornada de Dorothy na estrada de tijolos amarelos foi contada trinta anos antes, isso ilustra perfeitamente porque O Mágico de Oz deve ser considerado um avanço visual e técnico impressionante para a época.
O que nos trás à Março de 2013 com o lançamento de Oz: Mágico e Poderoso, que tenta trazer o mágico universo criado por L. Frank Baum para as novas gerações ao mesmo tempo que surge como a nova aposta da Disney para um blockbuster em grande escala e até mesmo iniciar uma nova franquia bilionária. E é válido dizer que o nome do estúdio não está ali nos pôsteres à toa, o roteiro parece uma atualização do primeiro filme de As Crônicas de Nárnia, lançado pelo estúdio em 2005 com os mesmos propósitos. A história acompanha Oscar Diggs, um ilusionista fracassado do Kansas, que sonha em crescer e se tornar tão grandioso quanto seus ídolos. Certo dia, após outra apresentação fracassada Oscar (também conhecido como Oz) acaba dentro de um balão e no centro de um tornado e caí em um universo repleto de seres mágicos. Logo encontra Theodora, uma bruxa boa que se apaixona perdidamente pelo protagonista, que diz que sua chegada tem sido muito aguardada por todos habitantes daquele mundo, afinal, segunda uma antiga profecia, ele é o mágico que irá libertar todos de uma terrível feiticeira.
Você já viu isso antes, e não foi só em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa. Felizmente o roteiro escrito por David Lindsay-Abaire e Mitchell Kapner, cria uma aventura divertida e despretensiosa, que só deixa você perceber o quão clichê é a história apenas depois de sair do cinema. Além disso, Oz: Mágico e Poderoso joga breves e pequenas referências ao clássico estrelado por Judy Garland, tornando-se ainda mais agradável de acompanhado: Desde o lugar em que a casa de Dorothy caiu (que também é o local em que a estrada de tijolos amarelos tem início) até a risada icônica e memorável da bruxa má do Oeste, além de reutilizar a ideia de deixar o mundo de Oz mais mágico e colorido ao tirar as cores do mundo ‘real’, chegando até a expandir a sacada com a mudança do formato de tela.
É uma pena que o fato de ser um prequel acabe prejudicando tanto Oz: Mágico e Poderoso, afinal já sabemos o caminho que todos os personagens (ou, ao menos, os mais importantes) vão seguir. Assim quando Glinda é sequestrada e publicamente torturada não tememos por ela, muito pelo contrário, temos certeza que sairá bem daquela situação (afinal, ela é importante para histórias que acontecerão no futuro). Você pode dizer que dificilmente um mocinho iria morrer num filme infantil e concordo, porém, também sabemos que nenhuma das bruxas más irá morrer no fim do filme. É claro que isso atinja apenas os mais velhos, ou aqueles que viram o filme original. Porém, é bom ver que mesmo sendo clichê e previsível, o roteiro ainda me surpreendeu tomando uma decisão importante e bem pensada (pesquisando agora depois de ver o filme, pude ver vários sites e notícias que já revelaram a surpresa, ainda bem que eu escapei).
Em contrapartida, Oz acaba deixando uma estranha sensação no que desrespeito ao seu visual, que remete automaticamente ao de Alice no País das Maravilhas dirigido por Tim Burton em 2010: Ambos são exagerados e artificiais até mesmo para um filme infantil que se passa num mundo fantástico. Mas o fato é que a boa fotografia acompanhada pelas imagens belíssimas compensam a falta de criatividade do visual, além disso as criaturas vistas ao decorrer do longa são bem animadas e repletas de presença (uma das sequências mais belas de toda a fita é aquela que se passa na destruída cidade de porcelana, que impressiona pela riqueza de detalhes jogados pelo cenário criado digitalmente). Oz: Mágico e Poderoso também utiliza perfeitamente bem o 3D, conseguindo equilibrar os dois lados da tecnologia, dando uma profundidade de campo belíssima em sequências com planos mais abertos (e, enquanto em preto e branco e em 4X3 o filme ressalta ainda mais essa qualidade), ao mesmo tempo que não hesita em atirar objetos no público o tempo todo.
O elenco, por outro lado, de mostra uma verdadeira decepção, já que todos os nomes aparecem em tela com caracterizações rasas e expressões completamente estereotipadas: James Franco encarna um personagem que é aquele que faz a jornada “espiritual” aprendendo valiosas lições sobre sua vida e sobre si mesmo, mas Franco não deixa o protagonista ir além com seu tom cômico constantemente presente. Michelle Williams consegue não deixar Glinda uma personagem aguada e cafona (ou tão aguada e cafona quanto antes), Rachel Weisz marca presença apenas como uma coadjuvante de luxo, e Mila Kunis entra na trama de forma insossa mas fica mais divertida após a metade do filme (mesmo que esteja irreconhecível). Mesmo não fazendo feio, o elenco também está bem aquém do que já provou ser capaz.
Mas a maior decepção de Oz: Mágico e Poderoso é a direção sem personalidade de Sam Raimi, que após comandar dois dos melhores filmes de super-heróis já feitos (O terceiro Homem-Aranha não entra nessa lista, é claro) e um dos melhores filmes de terror da década passada, Raimi conduz seu filme de maneira esquemática e sem grandes surpresas, deixando uma marca apenas na briga entre Evanora e Glinda que encerra o clímax da produção, com seus closes mega rápidos e tremidos que lembram muito A Morte do Demônio e Arraste-me para o Inferno. Sem essa sequência (que é bizarra e soa deslocada do filme bobinho e infantil da qual pertence) o filme poderia ter sido dirigido por qualquer outro cineasta que é controlado pelo estúdio.
Contando com um segundo ato repetitivo, Oz: Mágico e Poderoso é esquecível, bobinho e incrivelmente previsível, mas ganha alguns pontos por não desrespeitar o original, trazendo praticamente as mesmas mensagens (‘a resposta esteve sempre com você’ ou ‘você pode mais do que imagina’) e por não subestimar a inteligência do público alvo com piadas exageradas e sem timing (mesmo com o tom cômico da atuação de Franco). Levando em conta o elenco espetacular, o diretor comprovadamente eficiente e autoral e a excelente campanha de divulgação, Oz é decepcionante. Não é, nem de longe, um filme mágico e poderoso, mas também não é mais uma vergonha do cinema comercial americano, como várias produções atuais.
"uma das sequências mais belas de toda a fita é aquela que se passa na destruída cidade de porcelana, que impressiona pela riqueza de detalhes jogados pelo cenário criado digitalmente"
TRUE